Mercado

Terras se desvalorizam com os grãos

Crise faz produtor vender fazendas; apenas áreas de cana-de-açúcar registram alta. Há 10 anos, quando Clayton Marques Arantes comprou sua fazenda, em Santa Carmem (MT), a propriedade valia o equivalente a 18 sacas de soja por hectare. No ano passado, com as benfeitorias, chegou a ser avaliada em 200 sacas de soja. Agora, quando Clayton pensou em vendê-la, não conseguiu mais do que 130 sacas de soja por hectare.

Assim como a fazenda de Arantes, muitas terras que haviam se valorizado no Centro-Oeste e Sul do País, devido principalmente ao maior plantio de soja, agora são comercializadas a preços mais baixos, acompanhando as cotações do grão que se mantiveram baixas neste ano. Segundo levantamento do Instituto FNP, os valores pagos por propriedades rurais caíram, em um ano, 35% em Mato Grosso e 27% no Paraná. Apenas áreas com cultivo de cana-de-açúcar é que têm conseguido preços melhores. Em São Paulo, o acréscimo foi de 15,7% em um ano.

“A expansão da soja elevou os preços das terras nos últimos anos”, diz Ignez Lopes, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ela explica, no entanto, que outros fatores, como inflação e câmbio, também influenciam nas cotações. Em Mato Grosso, o pico dos preços dos últimos três anos ocorreu em maio de 2004, quando o hectare foi comercializado a R$ 10,9 mil, com alta de 49% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Pablo Paulino Lopes, analista do Instituto FNP, diz que a previsão é de que os preços das terras onde há cultivo de grãos continuem se desvalorizando até o final do ano, enquanto as áreas sucroalcooleiras devem registrar picos de preços nos próximos cinco anos.

Lopes explica que geralmente as áreas de grãos se valorizam conforme o preço da soja mas que, devido à crise da agricultura, cresceu o número de produtores que estão saindo da atividade, aumentando a oferta disponível e descolando o preço da terra do valor da commodity.

Desistência

Dois anos seguidos com problemas climáticos, fizeram com que Arantes desistisse de plantar soja. Na safra passada, cultivou 1,6 mil hectares com arroz. Também não acertou. Gastou R$ 29 por saca (60 quilos) e vendeu por menos. Ontem, o grão era comercializado a R$ 12 a saca – Arantes ainda tem 30% de sua produção para vender. “Não dá para continuar no prejuízo”, diz. O produtor colocou seu maquinário à venda e, no último mês, procurou comprador para suas terras. Mas, com a desvalorização, preferiu arrendar por cinco anos a propriedade. “Vou esperar a situação melhorar para voltar a produzir”, diz Arantes.

Situação diferente vivem os produtores de cana-de-açúcar. Em um ano, o preço da terra se valorizou 15%. “Onde as usinas se instalam, há uma possibilidade crescente de mercado e, com isso, aumenta o retorno da terra”, diz Edson Ustulin, presidente da Comissão Nacional de Cana-de-açúcar da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

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