Gestão Administrativa

Como está o mercado de trabalho nas usinas

Como está o mercado de trabalho nas usinas

Em mais um ano de turbulências, o setor sucroenergético corre para se adequar. Em meio a isso está o universo de profissionais do setor, que em todo o país gera mais de 610 mil empregos diretos.

O Portal JornalCana inicia série de reportagens com o objetivo de detalhar como anda o universo profissional do setor sucroenergético nesta safra 2015/16 em andamento na região Centro-Sul, e que terá início nas regiões Norte e Nordeste a partir de setembro próximo.

Na entrevista a seguir, a consultora, conselheira de carreira e blogueira do Portal JornalCana Beatriz Resende de Oliveira fala sobre empregos, profissionais e sobre outros temas relacionados.

JornalCana – Com a safra 15/16 em andamento em meio a uma crise econômica, as usinas têm buscado quais profissionais para ajudar na gestão? Há disponibilidade desses profissionais no mercado?

Beatriz Resende de Oliveira – Dentro do momento difícil que as empresas estão passando, especialmente o segmento sucroenergético, não sei se podemos dizer que as empresas não estão achando alguns cargos ou se eles estão em falta no mercado. Minha visão é de que pode estar faltando competências e posturas que, nesse momento, podem ajudar as empresas a passar por uma fase crítica com mais profissionalismo, buscando soluções adequadas para apoiar o conjunto, e planejando/se preparando para os cenários que virão após a crise, e que demandarão muita competência por parte dos dirigentes, gestores, áreas envolvidas na gestão de crise e RH, especialmente.

Beatriz: a empresa precisa definir estratégicas inclusive pensando no “pós- guerra”
Beatriz: a empresa precisa definir estratégicas inclusive pensando no “pós-
guerra”

JornalCana – Fale mais a respeito, por favor.

Beatriz Resende de Oliveira – Quando olhamos para o cenário atual e a realidade de redução de quadro e de gastos nas empresas, a sensação que se tem é que nenhuma posição mais passa a ser importante, não é? Claro que não é assim e que a empresa precisa definir estratégicas para trabalhar essas reduções, inclusive pensando no “pós-guerra”. O que vemos é que muitas vezes isso não é levado em conta, ou não da forma que deveria, e a condução passa a ser estabelecida com base em alguns critérios imediatistas e de impacto em curto prazo.

JornalCana – Isso é necessário?

Beatriz Resende de Oliveira – Claro que sim, em algumas instâncias, mas quando se trata de decidir sobre pessoas e competências, isso passa a não ser tão simples assim, pois a retomada dará mais trabalho e gerará mais gastos, a menos que a empresa tenha decidido retomar e continuar de forma diferente. Reinventando-se a partir da crise. Concordo plenamente quando diz que a fase demanda pessoas com preparo, visão e competências que nem sempre encontramos no quadro, ou melhor, num quadro que geralmente está acostumado a viver situações de equilíbrio, conforto no sentido de não passar por altos e baixos, ou de fazer a gestão sempre da mesma forma. Isso não é uma crítica, isso é a realidade da maior parte das empresas que “o time sempre esteve ganhando”.

JornalCana – Qual o perfil do profissional mais procurado?

Beatriz Resende de Oliveira – Mais do que escassez de posições de determinadas áreas ou especialidades, o que precisamos e precisaremos é de profissionais que

1 – demonstrem maturidade pessoal e profissional;

2 – que tenham vivido culturas e cenários diferentes;

3 – que tenham passado por situações que tenham desafiado a sua capacidade profissional e a sua força pessoal;

4 – que saibam trabalhar em prol do coletivo e estimular a sinergia;

5 – que tenham olhar profissional, adequado e arejado sobre tudo;

6 – que saibam estabelecer e manter boas alianças e parcerias;

7 – que tenham comunicação e atitudes transparentes; que saibam liderar em situações de pressão e crise;

8 – que tenham o propósito da contribuição; que olhem para o todo e para frente, e não somente para partes e momento presente.

E além disso, que sejam pessoas com senso de adequação, com disposição para caminhar com os desafios, por maiores e desconfortáveis que eles sejam, e que consigam fazer a diferença por onde passarem.

JornalCana – Que tipo de atrativo a usina/destilaria deve oferecer para atrair esses profissionais disputados em plena safra?

Beatriz Resende de Oliveira – Como me embrenhei numa ótica diferente da sua pergunta original, vou continuar no meu raciocínio para ser coerente na minha fala: em qualquer circunstância, e não só nesse momento de crise, até porque quem não está empregado e assustado acaba aceitando qualquer coisa, infelizmente, as empresas precisam ter hoje um pacote atrativo para que consigam captar e trazer para dentro, profissionais diferenciados e que contribuirão com novas competências ou elas ampliadas; com novas visões e com posturas que podem apoiar os processos de amadurecimento da cultura interna.

JornalCana – Continue, por favor

Beatriz Resende de Oliveira – Então, no meu raciocínio e entendendo que nessa crise não tenho visto tantos profissionais serem disputados assim, vou falar do tal pacote que eu cito, ressaltando que vou sair do lugar comum da remuneração e benefícios, e também incluir itens tão importantes quanto, ou mais. Falo mais porque na minha visão, pagar alguém diferenciado de forma diferenciada é, para mim, o básico. Deveria ser, pelo menos.

Empresas deverão melhorar e ofertar os seguintes pontos:

remuneração (fixa e variável), premiações, bônus e benefícios, condizentes com a posição do cargo e dentro do que o mercado tem tratado de forma estratégica;

demais políticas de RH consistentes e voltadas à valorização de pessoas;

espaços e oportunidades de crescimento e contribuição;

desafios estruturados e passíveis de aplicação das competências das pessoas para resultados factíveis, dentro do desgaste e pressão inerentes ao objeto do trabalho, não mais do que isso;

ambiente e clima saudáveis, construtivos, colaborativos e sinérgicos;

boa qualidade dos profissionais do quadro: maturidade, relações transparentes, parcerias equilibradas e visões otimistas;

e, por final, e hoje para mim e para o mercado que se apresenta nos artigos, matérias e teses, um líder preparado e que contribua para a evolução da carreira do profissional. Uma relação que faça a diferença para ambas as partes.

JornalCana – Prossiga

Beatriz Resende de Oliveira – Utopia? Alguns amigos que me lerão dirão que sim. Minha visão e de muitos outros profissionais e pessoas revidarão dizendo que não. Difícil ver isso, ainda nas organizações em geral. Vemos casos isolados, o que já é bom. Mas não impossível de se perseguir como meta. Como princípio.

JornalCana – Existe mão de obra disponível no mercado para atender à esses cargos mais procurados?

Beatriz Resende de Oliveira – Ainda na minha linha, e trocando cargos por competências, digo que sim. Há muitos profissionais que por, diversos motivos, incluindo falta de oportunidades e de orientação ou estímulos transparentes, não conseguiram ainda a oportunidade que merecem. Os desencontros da vida. E isso acontece também no mercado de trabalho, onde nem sempre vemos uma aderência entre oferta e procura. E especialmente quando falamos dos olhos que avaliam, dos personagens que decidem e da falta de comunicação entre as partes para que os melhores potenciais possam encontrar seus merecidos caminhos.

JornalCana – Se um profissional está em função semelhante às disputadas, ele tem como adequar-se no curto prazo para disputar as vagas? Como?

Beatriz Resende de Oliveira – Veja se eu entendi: alguém que está no mercado atuando na função disputada e aparece uma oportunidade, sendo que ele estava quieto e não buscava recolocação. É isso? Para finalizar, e na minha linha de condução desse texto: qualquer profissional que atua no mercado de trabalho nos dias de hoje, independente de época de crise ou prosperidade, precisa estar atento à sua empregabilidade, e trabalhando na autogestão da sua carreira. Isto é condição de sucesso. Não o sucesso fora do alcance da maior parte dos brasileiros, mas o sucesso dentro da caminhada que planejamos para nós. Na sua pergunta, digo o seguinte: pessoas que estão cuidando da sua carreira, preparando-se para oportunidades que possam surgir dentro e fora da empresa em que estão, podem sim se adequar a curtíssimo prazo. Infelizmente este não é o retrato da maior parte dos profissionais que estão nas organizações.

JornalCana – Como assim?

Beatriz Resende de Oliveira – As pessoas conseguem seus empregos, lutam por ele e pelo crescimento em alguns momentos específicos, e depois se acomodam e ficam esperando por milagres. Tenho falado muito sobre o tema Carreira & Empregabilidade, tanto dentro das empresas, como em palestras focadas nesse despertar. Ainda um aspecto profissional muito pouco explorado no mercado. Pessoas acham que carreira depende das empresas. E ficam focadas somente em promoções, que nem sempre se caracterizam como evolução em carreira. Ainda não entenderam, e o mercado não para de falar nisso, que carreira hoje está na mão das pessoas e não das empresas. Estas têm que ofertar espaços, oportunidades e atrativos para bons profissionais. Mas quem define metas, quem investe, quem se prepara e quem se avalia, de tempos em tempos, é o próprio profissional.

JornalCana – Fale mais a respeito, por favor

Beatriz Resende de Oliveira – Concluindo e colaborando mais com esse assunto: empresas precisam se estruturar para passar, com menos trauma e menos fragilidade, pelas crises. Estas estão sempre nos rondando. Isso vale para nós, pessoas e profissionais também. Fácil falar? Claro que sei que a realidade é dura, mas podemos evitar muitas coisas ou tratá-las de forma diferente. Com pessoas, especialmente: perdemos pessoas realmente boas e com propósitos diferenciados por falta de estímulo, espaço, liderança e comunicação mais transparente. Empresas abrem mão disso sem lutar, sem repensar o que poderia ser diferente. Tomara que mais essa crise nos ajude a amadurecer pontos que ainda estão distantes de serem ideais. Não perfeitos, ideais.

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