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Anidro pode gerar receita R$ 350 milhões menor

Anidro pode gerar receita R$ 350 milhões menor

Usinas de etanol e distribuidoras de combustíveis travam neste momento uma queda de braço para definir em contrato o preço do anidro que será misturado à gasolina nos próximos 12 meses, contados a partir de abril. Com os tanques cheios de produto e, em alguns casos, dificuldade de caixa, as usinas entram na negociação com desvantagem. Se a proposta das distribuidoras prevalecer, a perda de receita pode atingir R$ 350 milhões.

Pelas regras da Agência Nacional de Petróleo (ANP), até 30 de março as distribuidoras precisam apresentar ao órgão regulador contratos de aquisição de 70% do anidro que vão misturar nos 12 meses – com base no consumo dos 12 meses anteriores. Em isso feito, essas empresas adquirem o direito de comprovar a aquisição de outros 20% até 1º de junho, cumprindo, portanto, a determinação de deixar “em aberto” apenas 10% da demanda projetada.

No ciclo 2014/15, usinas e distribuidoras acordaram que o valor de realização dos contratos de anidro seria o preço do hidratado adicionado de um prêmio de 13% – fórmula aplicada semanalmente, na medida em que a entrega do produto ia sendo feita. A existência de um prêmio entre os dois produtos tem como princípio o valor agregado de um sobre o outro. O anidro é um etanol puro, que passa por desidratação para eliminar o máximo de água. Por isso, também tem um custo maior que o do hidratado.

No entanto, de abril de 2014 até janeiro deste ano, esse prêmio se realizou em 11% – considerando a média ponderada de preços do anidro e do hidratado, conforme cálculos da trading Bioagência, com base em dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada.

Por isso, agora, as distribuidoras pressionam por um prêmio menor. A percepção do diretor da Bioagência, Tarcilo Rodrigues, é a de que esse adicional vai recuar, mas para patamares entre 11,5% e 12,5%. Nas contas de Rodrigues, o valor absoluto do prêmio vai se manter estável se o martelo for batido a 12%. Isso porque, o menor prêmio em percentual será compensado por uma base de cálculo maior, uma vez que a alta da gasolina puxou os preços do etanol. Entre abril de 2014 até janeiro de 2015, o preço médio mensal do hidratado foi de R$ 1,28 por litro, o que significou, a um prêmio de 13%, um adicional de R$ 0,17 para o anidro.

A projeção da Bioagência para o preço médio do hidratado para 2015/16 é de R$ 1,41 por litro, o que, adicionado de um prêmio de 12%, significará um anidro a R$ 1,58, ou R$ 0,17 de ganho por litro.

Mas a condição financeira das usinas, agravada pelo alto risco de crédito desse setor, tende a dar mais conforto às distribuidoras na negociação que se intensifica agora, em março, explica o analista da FCStone, Bruno Lima. “Muitos grupos usam esses contratos de venda de etanol como garantia para empréstimos”.

Ele esclarece que poucos contratos foram fechados até agora. Mas já foram observados negócios ao prêmio de 11%. “Se esse percentual, de fato, cair de 13% para 11%, a perda de receita para as usinas será de R$ 350 milhões”, calcula Lima, considerando que o mercado brasileiro de anidro é estimado em R$ 20 bilhões. Ele observa ainda que, em março, a necessidade de levantar recursos é ainda maior para as usinas, pois é o limite da entressafra.

A disputa no mercado de contratos, reflete o clima de negociações no físico, compara o especialista da FCStone. Na terceira semana de fevereiro, o litro do etanol anidro foi negociado a R$ 1,58. Nos sete dias seguintes, esse patamar recuou R$ 0,10 por litro, diante da dificuldade das usinas de sustentar preços.

Pesa ainda, segundo ele, o fato de que os tanques das usinas estão mais cheios. Nos cálculos da consultoria, ao fim de março, os estoques de etanol no Centro-Sul serão de 2,8 bilhões de litros, contra os 1,6 bilhão de litros de um ano atrás. As estimativas consideram uma mistura de 25% de anidro na gasolina e não inclui as eventuais transferências do produto para o Norte e Nordeste.

Apesar das indefinições frente à proposta de aumento da mistura para 27%, o mercado já negocia considerando a mudança. No entanto, explica Lima, essa instabilidade também aprofunda a fragilidade das usinas para negociar.

Em 2014, com o percentual de 25% na gasolina, o consumo de etanol anidro no país foi de 11,096 bilhões de litros, segundo a ANP, 14,5% mais que em 2013.

O crescimento do consumo do chamado “Ciclo Otto” – que considera a gasolina, o etanol anidro e o hidratado – foi de 7,5% ano passado. Esse avanço deve arrefecer em 2015, diante do aumento dos preços dos combustíveis e à desaceleração da economia brasileira. “Ainda assim, acredito que o aumento em 2015 será, de pelo menos, 4,5%”, avalia o diretor da Bioagência.

(Fonte: Valor Econômico)

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