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Zimbábue compra destilaria usada de grupo brasileiro

Uma destilaria inteira de álcool foi desmontada em Diamantina (MG) e será enviada ao Zimbábue, país da África Austral em plena convulsão política e econômica. O negócio, cujo valor não é revelado, foi fechado entre a Usina Vale do Verdão, produtora em Goiás e a empresa zimbabuana de energia renovável Boabad Energy, segundo afirmou o advogado português Jorge dos Santos Neves, do escritório Barrocas, de Lisboa, que representou nas negociações a parte compradora.

A antiga Destilaria Diamante foi montada em 1985, com capacidade de 150 mil litros de álcool por dia ou 35 milhões de litros por safra. Parou de operar seis anos depois, espremida entre a crise do mercado e dívidas do Banco do Brasil, que terminou com a guarda dos equipamentos. Em 2003 houve uma cessão de direitos creditícios para a Vale do Verdão, que fez a venda dos equipamentos.

A negociação foi concluída depois de dezoito meses, com a Boabad pagando adiantado, segundo informou um representante dos vendedores, o empresário Marcelo Acuña Coelho, da E-Machine, de Ribeirão Preto (SP). Um grupo de empresas de Sertãozinho está reformando as colunas de destilação e as moendas. Procurada pelo Valor, a Vale do Verdão não retornou os pedidos de entrevista.

Segundo Santos Neves, os principais atrativos do maquinário da Destilaria Diamante são sua capacidade e estado de conservação. ” É como comprar um Fiat 127, um automóvel que já saiu de linha em Portugal, mas com pouquíssima quilometragem rodada. Não se encontra mais isso ” . O Fiat 127 foi fabricado na Europa entre 1972 e 1987 e se caracterizava pela motor abaixo de mil cilindradas e tamanho compacto. A Destilaria Diamante também é de porte pouco usual para os padrões de hoje, em que os projetos em instalação têm capacidade de processamento acima de 1 milhão de litros por dia.

O projeto da Boabad Energy, que envolve além dos equipamentos brasileiros a formação de 12 mil hectares de plantio de cana em Chisumbanje, no sudeste do país envolverá um investimento equivalente a US$ 100 milhões. Em uma segunda etapa, com a ampliação para 40 mil hectares e a produção de 100 milhões de litros de etanol por safra, serão aplicados outros US$ 120 milhões. Ainda que o valor da transação não seja revelado, o investimento foi expressivo: os equipamentos da Diamante estavam sendo oferecidos em anúncios disponíveis na internet por R$ 70 milhões, há dois anos.

Segundo Santos Neves, o foco principal do etanol zimbabuano será o mercado interno. Mas a expectativa também é entrar no mercado da África do Sul, que consome 760 milhões de litros de etanol por ano, graças à política governamental que determina a mistura de 8% de etanol nos combustíveis derivados do petróleo.

País governado por Robert Mugabe desde 1980, o Zimbábue enfrentou um ciclo de desvalorização da moeda que levou o país a uma inflação anualizada de 9.000.000% em julho de 2008. Em março deste ano, a moeda local, o dólar zimbabuano, foi abolida e qualquer outra moeda passou a ser aceita. A escassez de meios monetários está fazendo com que atualmente camponeses deem cabras e bodes em troca de passagens de ônibus, conforme o próprio Mugabe relatou em discurso feito nesta sexta-feira.

Chefe de um regime arbitrário, Mugabe cedeu poder para o oposicionista Morgan Tsvangirai, nomeado primeiro-ministro. No mês passado, Tsvangirai abandonou o governo, acusando Mugabe de sabotar suas iniciativas. Na semana passada, houve uma reconciliação, intermediada por Angola e Moçambique.

Apesar desses precedentes, Santos Neves afirmou que há um clima propício para investimentos no Zimbábue. ” O Zimbábue atravessa um processo político e econômico complexo, mas não mais do que outros países na África. Lá existe uma infraestrutura que facilita muito os investimentos. É claro que há riscos econômicos e políticos, mas posso assegurar que existe um otimismo cauteloso no empresariado ” , afirmou o advogado.

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