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Usinas vão precisar renegociar dívidas

Altamente endividados, os grupos sucroalcooleiros podem ter dificuldade para renegociar seus débitos no atual cenário de escassez (e aumento do custo) de dinheiro. Apesar de neste momento os preços do açúcar e do álcool estarem remunerando acima do custo de produção, a atividade não vai gerar recursos suficientes para bancar as despesas operacionais e as dívidas vencidas de investimento. Não há uma estimativa sobre o volume total de débitos para serem renegociados neste momento. Mas, somente entre 2005 e 2007, o setor contratou R$ 6,6 bilhões de recursos somente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Desse total, R$ 3 bilhões começam a vencer neste ano, ou seja, já tiveram seus dois anos de carência vencidos.

“Há ainda casos de outras operações estruturadas, cujo vencimento é de um ou dois anos. Portanto, a situação trará dificuldades reais às usinas, o que criará um ambiente muito propício a fusões, aquisições e joint ventures”, afirma Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro.

A maior parte das dívidas desse segmento refere-se a recursos contratados nos bancos nacionais. No entanto, essas instituições também buscam recursos no mercado externo e, podem, portanto, não ter o que oferecer, na avaliação de Nastari. “Não se trata de falta de credibilidade em relação ao setor sucroalcooleiro, que está em um bom momento”.

Ainda não se sabe o período de duração dessa crise. Mas o fato é que as usinas estão altamente alavancadas. De janeiro a 25 de setembro deste ano, o BNDES desembolsou R$ 4,125 bilhões ao setor, 15% a mais do que todo o volume liberado em 2007 (R$ 3,59 bilhões). Assim, desde 2005, os empréstimos do banco às usinas atingem R$ 10,79 bilhões. “As empresas tomaram o risco de aumentar a capacidade industrial para atender a demanda crescente e fizeram isso tomando empréstimos. Mas se deparam agora com essa crise que não tem nenhuma responsabilidade do Brasil”. De acordo com a Datagro, o total da dívida das empresas no País é de US$ 28 bilhões, que poderiam ser renegociados se o governo retirasse esse volume das suas reservas de US$ 205 bilhões.

Como em toda crise, alguns perdem e outros ganham. “E quem tiver dinheiro vai comprar. Joint ventures também podem ocorrer”, avalia Nastari.

A restrição de crédito ao setor sucroalcooleiro pode também comprometer a continuidade de projetos de usinas. Assim, na próxima safra podem não entrar em operação todas as usinas previstas. No começo desta safra, previa-se a entrada em operação de 32 novas unidades industriais, das quais 22 já estão operando, e uma ou duas também entrarão até o final desta safra. “Mas neste ano a principal razão foi o atraso na entrega de equipamentos”, pondera Plínio. De qualquer forma, trouxe redução da expectativa de moagem, o que pode se repetir no próximo ano, com mais frustração de aumento de moagem de cana-de-açúcar..

Cias abertas

Peter Ping Ho, analista da Planner Consultoria, explica que esse problema deve atingir principalmente as usinas que não estão com capital aberto em bolsa. “Elas dependem unicamente de captações de dinheiro em bancos, o que fica mais complicado com o aumento das taxas de juros, além da restrição na concessão do dinheiro”.

As companhias com ações em bolsas têm opções de aumento de capital, além de empréstimos bancários. Como ocorre neste momento com a Cosan S.A, que anunciou nova captação para levantar cerca de metade dos recursos necessários para a compra da Esso. “Mas a situação também é complicada para a empresa, porque a outra metade, US$ 500 milhões, terão que vir de empréstimos a taxa de juros, certamente, maiores, uma vez que há o agravante de a companhia ter sido rebaixada pela agência Moody’s”, acrescenta Ping Ho.

Alternativas também terão que ser buscadas pela Açúcar Guarani que informou em seu balanço do primeiro trimestre da safra 2008/09 um volume em caixa de R$ 155 milhões e uma dívida líquida total de R$ 728 milhões, dos quais 75% (R$ 546 milhões) com vencimento no curto prazo, ou seja, em menos de doze meses. Por trimestre, a companhia precisa ainda de um capital de R$ 60 milhões para suas despesas operacionais.

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