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Usinas mantêm postura cautelosa em 2016/17

É inegável que, após anos de crise, as usinas sucroalcooleiras estão vivendo um momento privilegiado, sobretudo por conta de uma oferta mais apertada de açúcar no mercado no internacional e seus reflexos positivos sobre as cotações da commodity.

Mas os melhores resultados colhidos já na safra passada, quando preços e demanda de etanol no mercado doméstico também reagiram, tendem a servir apenas para que as companhias continuem a “arrumar a casa” neste ciclo 2016/17, iniciado em 1º abril. Investimentos em expansão, apenas na próxima temporada, se assim a conjuntura permitir.

Essa foi a tônica passada por Raízen, Tereos, Biosev e São Martinho, as principais empresas do ramo no país, listadas na BM&FBovespa, nas divulgações dos resultados do exercício 2015/16, marcados por incrementos robustos nas respectivas receitas líquidas.

Em contrapartida, a valorização do dólar em relação ao real até o início deste ano agravou o endividamento da maior parte das companhias, que só não foi mais preocupante porque, em geral, os ganhos operacionais suavizaram as relações entre dívida e Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização) – as alavancagens.

Ainda que a maior parte das projeções indique déficit global de açúcar nesta e na próxima safra e exista algum otimismo com a política de preços de combustíveis da Petrobras no Brasil, os grupos sucroalcooleiros prometem controlar seus gastos com rédea curta e continuar a reduzir a alavancagem – em alguns casos, com o alongamento de dívidas.

A cautela se manifesta com todas as cores nas sinalizações da Raízen Energia, mesmo depois de a companhia ter encerrado a safra passada com lucro líquido de R$ 1,2 bilhão, dez vezes superior ao do ciclo anterior.

Ao Valor, Luis Henrique Guimarães, presidente da Raízen, disse que o investimento de capital (Capex) do braço sucroalcooleiro da companhia deverá ficar entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2 bilhões em 2016/17.

Em 2015/16, foram R$ 1,8 bilhão, 24% menos que na safra anterior. O ajuste refletiu, em parte, o aumento da produtividade nos canaviais.

No ciclo passado, a Raízen Energia registrou receita líquida de R$ 11,9 bilhões, 22% mais que em 2014/15, e Ebitda ajustado de R$ 1,7 bilhão, aumento de 25% na comparação, o maior crescimento entre as sucroalcooleiras de capital aberto.

Para a Tereos, a ordem é seguir reduzindo a alavancagem. Por conta de um forte desempenho operacional – o Ebitda ajustado cresceu mais de 50% em 2015/16, para R$ 1,2 bilhão -, o índice já caiu de 7,2 vezes, no fim da safra 2014/15, para 4,3 vezes na temporada passada.

Isso, apesar da alta de 18% da dívida líquida, que chegou a R$ 4,9 bilhões pressionada pela incorporação da Usina Vertente e pela depreciação do real em relação a dólar e euro.

Os negócios no Brasil representam pouco mais de 25% da receita da múlti, que tem ativos na França e em outros países da Europa, da Ásia e da África.

Mas o perfil da dívida melhorou com o refinanciamento de cerca de US$ 500 milhões ao longo do ciclo e poderá melhorar mais com a recente emissão de US$ 400 milhões em bonds.

A ideia é diminuir o peso do endividamento para algo entre 2 e 3 vezes o Ebitda até a próxima safra (2017/18), afirmou ao Valor o diretor geral da Tereos, Jacyr Costa.

Para que a meta seja cumprida, a empresa pretende manter, neste ciclo, o nível de investimentos de 2015/16, que em todas as suas operações globais somou R$ 881 milhões – R$ 485 milhões dos quais no Brasil.

Esse patamar, segundo Costa, é suficiente para “continuarmos investindo em melhorias de produtividade, renovação de canaviais e tecnologia de precisão”.

Controle dos investimentos, prioridade na geração de caixa e alongamento das dívidas também compõem o receituário da Biosev, controlada pela francesa Louis Dreyfus Commodities, para a temporada 2016/17.

Após uma safra marcada pela aumento de 2,6% da dívida líquida, que atingiu R$ 4,2 bilhões sob a influência do câmbio, o mantra para este ciclo é gerar caixa e alongar os prazos de vencimento.

Na safra passada, a dívida de curto prazo respondeu por 27% da dívida bruta total, 2 pontos percentuais a mais que na temporada anterior. “Estamos buscando o alongamento e a redução [do montante] da dívida ao longo do tempo”, afirmou Rui Chammas, diretor presidente da Biosev.

A tarefa poderá ser facilitada se a recente apreciação do real se mostrar resiliente, mas a própria composição da dívida deixa a companhia confiante em uma melhora de seu perfil.

A maior parte dos créditos de curto prazo se refere a Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACCs) e Pré-Pagamento de Exportação (PPEs), cuja renovação com as instituições financeiras, segundo Chammas, é mais fácil.

Nesse contexto, o Capex deverá ser mais ou menos o mesmo de 2015/16 (R$ 1,2 bilhão).

Já o Grupo São Martinho reitera que pretende manter uma forte disciplina financeira nesta safra. Depois de registrar faturamento de R$ 2,8 bilhões e Ebitda ajustado de R$ 1,3 bilhão em 2015/16, a companhia planeja apenas um aporte em expansão na safra atual.

Serão R$ 60 milhões, para completar a ampliação da Usina Santa Cruz, localizada no município paulista de Américo Brasiliense, conforme anunciado no fim do ano passado.

A capacidade adicional de processamento de cana que será gerada, de 700 mil toneladas, estará à disposição na temporada 2017/18. Em 2015/16, o Capex da empresa foi de R$ 840,8 milhões.

“O objetivo nesta safra é reduzir a alavancagem e, depois, distribuir dividendos. No momento, o cenário é de muita incerteza”, afirmou Fábio Venturelli, presidente da São Martinho, após a divulgação dos resultados de 2015/16.

O grupo pretende diminuir a alavancagem de 2,2 vezes, no fim da temporada passada, para 1,5 vez ao término da atual.

Fonte : (Valor Online)

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