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UFSCar vai transformar alga em biodiesel

Quem já passou pelos imensos canaviais do interior paulista conhece o cheiro desagradável da vinhaça, líquido que sobra após a produção de álcool. Cientistas e empresários apostam que o dejeto pode virar a base de um novo tipo de biodiesel.

A UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e a empresa Algae Biotecnologia assinaram ontem um contrato de cooperação tecnológica para colocar a ideia em prática. O plano é usar a vinhaça como “ração” para algas microscópicas, cujas células, ricas em moléculas de gordura, virariam biocombustível.

Nos próximos 30 meses, a parceria vai receber R$ 3,24 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), enquanto a Algae investirá mais R$ 320 mil.

Novas tecnologias criadas pelo projeto serão patenteadas, e possíveis lucros oriundos delas serão divididos meio a meio entre a universidade e a empresa, disse à Folha Sergio Goldemberg, gerente técnico da Algae.

“Vamos tomar cuidado para que os resultados das pesquisas não sejam publicados antes de garantirmos a propriedade intelectual sobre eles”, afirma.

Se tudo der certo, o projeto pode ajudar a resolver uma série de problemas ambientais e tecnológicos com uma cajadada só. A vinhaça, que é basicamente a “água suja” que sobra depois da fermentação e da destilação do caldo de cana, é muito rica em sais e em compostos orgânicos difíceis de degradar.

TRATAMENTO

Por isso mesmo, é poluente e demanda tratamento antes de ser lançada na natureza. “As algas removeriam parte desses poluentes e virariam matéria-prima”, explica Reinaldo Gaspar Bastos, engenheiro de alimentos do campus da UFSCar em Araras (SP) e lí der da pesquisa.

O desafio é achar o tipo certo de alga para o propósito desejado, conta Bastos. Dependendo da espécie, há diferentes proporções de gorduras e proteína nas células. Caberia ao interessado escolher linhagens mais “gordurosas” (voltadas para a produção de biodiesel) ou ricas em proteína (que virariam ração animal, outra possível abordagem do projeto).

Na corrida por biocombustíveis mais baratos e eficientes, o biodiesel de microalgas desperta interesse, primeiro, por não ocupar terras que poderiam ser usadas para produzir alimentos. Mas o principal, diz Bastos, “é o tempo de geração, a capacidade de dobrar a própria biomassa muito rapidamente”.

Nesse ponto, as algas ganham fácil dos vegetais terrestres, mas o problema é encontrar uma maneira de otimizar industrialmente a produção delas. “Nesse ponto, o etanol ainda é muito competitivo”, afirma o pesquisador.

Goldemberg diz que a expectativa é criar um biodiesel de alga capaz de competir com o produzido com vegetais como soja em até cinco anos. Hoje, avalia ele, o custo do óleo feito com algas é entre cinco e dez vezes mais alto. Combinar a produção de biocombustível com serviços de despoluição e produção de ração tornaria a equação mais vantajosa, afirma.

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