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PIB do setor deve repor perdas de 2012

O agronegócio poderá acrescentar quase um ponto percentual à taxa de crescimento esperada para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano, o que poderá significar algo muito próximo da metade do índice entre 2% e 2,5% esperado pela maioria dos consultores. Nas previsões da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o agronegócio, que respondeu por pouco mais de 22% do PIB nacional em 2012, deverá crescer algo entre 4% e 4,5%, mais do que repondo a queda verificada em 2012, quando a estiagem severa levou à quebra na produção de soja e milho no Sul e no Nordeste do país e a crise mais ampla no setor industrial agravou o cenário para a agroindústria.

“Essa é uma projeção conservadora, que, contudo, já considera a leve desaceleração esperada para os preços da soja e do milho em função da expectativa de recomposição de estoques globais”, analisa Rosimeire Cristina dos Santos, superintendente da CNA. No ano passado, segundo estimativa mais recente da entidade, num trabalho realizado em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), o PIB do agronegócio baixou 1,5 % em relação a 2011, para R$ 980,92 bilhões. Foi influenciado basicamente pela queda de 3,7% para os segmentos da indústria associados ao agronegócio e de 1,9% para o de distribuição. Entre um ano e outro, o valor agregado sofreu perda em torno de R$ 15,0 bilhões, equivalentes a 0,34% do PIB total. Dito de outra forma, a economia poderia ter crescido quase 1,2% no ano passando se o agronegócio tivesse apenas repetido o resultado de 2011.

A tendência de queda vigorou nos primeiros três trimestres de 2012, com retração na faixa de 3% para o PIB do setor. Entre setembro e outubro, houve reação de quase 1,4%, seguida de alta de 1,17% neste primeiro bimestre. Segundo Fabio Meneghin, sócio analista da Agroconsult, o tropeço sofrido pela agroindústria no ano passado foi puxado pelos setores de processamento de suco de laranja, açúcar e etanol. No primeiro caso, a redução da demanda nos principais mercados, particularmente Europa e nos Estados Unidos, afetados pela crise global, desequilibrou o mercado, provocando um excesso de oferta e queda generalizada nos preços, analisa Meneghin.

O setor sucroalcooleiro sofreu com os preços do etanol comprimidos frente à concorrência com a gasolina e com o atraso na moagem de cana, que só foi deslanchar a partir de meados de 2012. A Agroconsult, segundo Meneghin, trabalha com projeções mais otimistas para o PIB do agronegócio neste ano, apostando em forte recuperação como resultado direto do aumento de 10% na produção de grãos e de 11% para a cana.

Nas últimas duas décadas, segundo dados da CNA e da Agroconsult, o agronegócio respondeu pela geração de R$ 22 a R$ 28 a cada R$ 100 agregados ao PIB do país pelo restante da economia, além de contribuir com algo ao redor de 40% a 44% do total das exportações e sustentar praticamente todo o superávit comercial do Brasil desde meados dos anos 1990. Entre 2011 e 2012, a participação estimada para o PIB do setor no produto total gerado pela economia brasileira variou de 24% para 22,3% nos cálculos da CNA. “O comportamento instável do PIB brasileiro afetou todos os setores, inclusive o agronegócio”, comenta Rosimeire.

A partir do início do século, afirma Meneghin, o destaque na formação do PIB do agronegócio foi certamente o setor de grãos, “que tem registrado, nos últimos 10 anos, crescimento de 4,7% ao ano na produção, avançando fortemente em produtividade com a adoção cada vez maior de tecnologia, principalmente nos casos da soja e do milho”.

Tomando ainda os dados de 2012, fechados pela CNA e Cepea, fora da porteira, os segmentos de distribuição e da agroindústria responderam por fatias de 31% e 27,8% do valor agregado do agronegócio. A participação da produção agropecuária propriamente dita alcançou 29,1%, com a indústria de insumos assumindo 12,1% do PIB setorial.

A metodologia adotada pelo Cepea apura não apenas a produção realizada, mas também os preços reais praticados a cada ano, medindo assim a renda real gerada pelos setores analisados, enquanto o IBGE utiliza o critério de preços constantes e avalia primordialmente a flutuação dos volumes produzidos em cada área da economia. Mesmo neste caso, observa César de Castro Alves, analista da MB Agro, “a agropecuária, num conceito mais estrito, tem sido a salvadora dos resultados obtidos pelo PIB brasileiro nos últimos trimestres”.

No primeiro trimestre deste ano, a agropecuária registrou alta de 9,7% frente aos três meses imediatamente anteriores, diante de variação de modestos 0,6% para o PIB em geral. Nos seis meses encerrados em março, mais uma vez, enquanto a economia avançou 1,6% frente ao período entre outubro de 2011 e março de 2012, a agropecuária cresceu 5,6%. As boas perspectivas desenhadas tanto para a agricultura quanto para a pecuária, afirma Alves, estimulam uma previsão de crescimento acumulado no ano entre 5% e 5,5%.

Olhando para o longo prazo, na avaliação de Rosimeire e Meneghin, as previsões para o agronegócio como um todo, incluindo as áreas de produção agropecuária, processamento e os setores de insumos e distribuição, são promissoras. A superintendente da CNA aponta principalmente a perspectiva de retomada da economia mundial em algum ponto no futuro próximo, o que deverá turbinar o consumo global de alimentos, que não chegou a ser especialmente abalado pela crise.

Meneghin acrescenta que a ausência de um sistema eficiente de logística continua sendo o grande gargalo no caminho do setor, a começar pela baixa capacidade estática de armazenagem nas fazendas. “Os problemas se agravam porque as cargas se concentram no modal rodoviário, e culminam com o gargalo no acesso aos portos e na burocracia”, acrescenta.

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