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Para Dilma, bancos privados são sólidos e podem emprestar

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem (23), durante um café da manhã com empresários, em São José do Rio Preto, SP, que os bancos privados do País são sólidos e que não há risco de crise no sistema bancário brasileiro. Sobre os reflexos da crise mundial no setor sucroalcooleiro, ela sugeriu que os empresários busquem ajuda nos bancos privados.

Dilma sinalizou para a possibilidade de ajuda do Governo, no entanto o socorro seria dado de forma criteriosa. A ministra disse que, primeiro, as usinas devem procurar as instituições financeiras privadas e solicitar a liberação do dinheiro captado com a redução dos depósitos compulsórios junto ao Banco Central.

O setor sucroalcooleiro do Brasil, que vive um boom investimentos em novos projetos, foi pego de surpresa pela crise internacional. Descapitalizados, por conta dos endividamentos relativos a empréstimos, grupos estão adiando planos de iniciar operações de usinas.

Algumas empresas já não estão conseguindo renegociar dívidas de curto prazo, nem cumprir compromissos diários, como pagamento de fornecedores. A situação da falta de crédito, mesmo que abrandada pela ministra Dilma, atinge toda a cadeia produtiva.

De acordo com o gerente regional da Ciesp em Ribeirão Preto, Fabiano Guimarães, mais de 70% dos novos projetos possuem forte participação de capital estrangeiro. Com a crise, os empreendimentos estão sendo postergados ou suspensos. “Está mais difícil financiar máquinas agrícolas, por exemplo. A aquisição de fertilizantes e insumos também poderá ser comprometida”.

Para o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari, dificilmente as unidades restantes começarão a moer de cana no final da safra no Centro-Sul, que termina no final de novembro. O consultor afirma que a crise não é a única motivação para as mudanças de planos. O atraso na entrega de equipamentos é outro fator importante a ser considerado.

A crise internacional vai se refletir mais claramente a partir no ano que vem no setor sucroalcooleiro. A produtividade da safra 2009/10, que começa em maio, poderá ser afetada. Isso porque as decisões de investimentos em insumos estão sendo tomadas agora. Com recursos escassos e falta de capital de giro, o uso de insumos tende a cair.

No início do ano, a Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar) previa que 32 novas usinas entrariam em operação nesta safra, na região Centro-Sul. No entanto, até setembro, quatro unidades já haviam decidido adiar a partida para 2009.

O cenário de crise, desencadeado pelo subprime (sistema de financiamento imobiliário por meio de hipoteca) norte-americano, alcançou o setor sucroalcooleiro do Brasil já minado pelos preços desfavoráveis do açúcar e etanol. Os derivados da cana não acompanharam o boom das demais commodities agrícolas.

Para driblar a crise? Fabiano Guimarães recomenda que as empresas implantem um rigoroso sistema de controle de custos e análise de riscos de crédito. Ele acredita que não haverá redução de demanda, no entanto as margens de lucro ficarão ainda mais apertadas.

Com dificuldade para bancar as despesas operacionais e as dívidas vencidas de investimento, as usinas precisam buscar alternativas. Segundo Nastari, a situação trará dificuldades reais às usinas e, em breve, criará um ambiente propício a fusões, aquisições e joint ventures.

Boom

O aumento dos investimentos em usinas e destilarias no Brasil foi iniciado em 2003. De 2005 a 2008, o setor angariou empréstimos da ordem de R$ 10,79 bilhões com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para levantar recursos. Desse total, R$ 3 bilhões começam a vencer em 2008, respeitando os dois anos de carência dos contratos.

Só de janeiro a setembro deste ano, o BNDES desembolsou R$ 4,125 bilhões ao setor, 15% a mais do que os R$ 3,59 bilhões liberados em 2007. O total da dívida das empresas no País é estimado em US$ 28 bilhões, que poderiam ser renegociados caso o Governo decidisse utilizar parte de suas reservas de US$ 205 bilhões.

No cenário de hoje, a crise ameaça o investimento estimado pelo setor sucroalcooleiro em US$ 33 bilhões para projetos de novas usinas até 2012.

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