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Os fertilizantes e a segurança alimentar

Como se sabe, o agronegócio tem sido um dos principais pilares de sustentação de nosso superávit comercial, não só por sua eficiência, como pelo fato de as exportações de algumas commodities estarem influenciadas por preços internacionais aquecidos em função do aumento da demanda e diminuição dos estoques em todo o mundo. Além disso, dentre os setores de atividade medidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o dimensionamento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, a agropecuária é o que tem apresentado expansão mais expressiva.

Os bons resultados da atividade decorrem de sua expressiva profissionalização, investimentos em mecanização e o consistente aporte tecnológico, cujo parâmetro é o desempenho de institutos de pesquisa públicos e privados, entre os quais a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – uma referência mundial. São fatores que potencializam a evidente vocação rural do País, somando-se à sua invejável disponibilidade de terras agricultáveis, clima e solo propícios.

Na agropecuária, portanto, há um viés de circunstâncias geográficas, climáticas, tecnológicas e relativas à gestão que a impulsiona e lhe possibilita contribuir muito para alavancar a economia brasileira. Em contrapartida, o setor também enfrenta sérios gargalos, cuja solução lhe permitiria alcançar patamares ainda mais elevados.

Isto precisa ser considerado uma prioridade, pois quando se trata de alimentos e matéria-prima para a bioenergia, está-se referindo à própria equação da sobrevivência, num planeta cada vez mais ameaçado pela escassez de recursos naturais e carente de combustíveis limpos e advindos de fontes renováveis.

Em síntese, nossa produção agropecuária, por maior que seja, tem ainda imenso potencial (e necessidade!) de fomento. Exemplo incontestável disso é o trigo. Seu cultivo interno cresceu 62,3%. Bastou, entretanto, que os argentinos anunciassem que suspenderiam as exportações devido a seus problemas com os agricultores e pressões inflacionárias, para que a cadeia produtiva da farinha entrasse em pânico em nosso País. Afinal, comprar maiores volumes dos Estados Unidos e Canadá, cujo produto é mais caro, pode ter impacto no preço do pãozinho francês nosso de cada dia e, em conseqüência, no custo de vida.

Assim, não se pode mais postergar a solução dos obstáculos que afetam o setor. Os dois mais agudos são a precariedade da infra-estrutura, que, como se sabe, provoca imenso desperdício e maiores custos, e o antigo dilema dos fertilizantes, um drama que ganhou instigantes e preocupantes episódios.

O aumento dos preços agrícolas decorrente da majoração do vital insumo (cuja maior demanda mundial, em especial na China, pressiona as cotações) vem-se transformando numa questão mais séria do que se imaginou a princípio.

Sabe-se que 64% da demanda nacional dos adubos são supridos pela importação. Há, até mesmo, quem levante a existência de um oligopólio controlador dos preços e gerador de aumentos. O fato é que tal alta tem origem no crescente aumento de demanda internacional pelo produto.

Esta é a verdadeira causa da elevação do custo de importantes lavouras, dentre elas soja, milho, cana-de-açúcar, café e algodão herbáceo, responsáveis por 78% do consumo de fertilizantes no País.

Suposições à parte, o que interessa, na verdade, é estabelecer políticas capazes de ampliar a oferta nacional do insumo. Ter alternativas viáveis nesse sentido é uma questão de segurança alimentar.

Dessa maneira, cabe às autoridades competentes adotarem medidas eficazes e justas, de modo que mais empresas possam produzir no Brasil e as já existentes produzirem ainda mais.

Tais providências também atenuariam a dependência da importação, o que é fundamental, pois na economia globalizada não podemos estar dependentes de apenas alguns poucos fornecedores internacionais que, inclusive, têm adotado restrições às exportações de seus produtos. É necessário pôr fim aos fatores que limitam o agronegócio, pois se a terra depende dos fertilizantes para se manter produtiva, a economia brasileira depende da terra – adubo do PIB -, para seu crescimento sustentado.

kicker: Importamos 64% dos adubos que hoje utilizamos; é urgente elevar a oferta interna

(João Guilherme Sabino Ometto* – Vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e presidente do Grupo São Martinho)

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