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Obama e McCain têm posições contrastantes para América Latina

O candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, John McCain, e o seu rival democrata, Barack Obama, têm posições contrastantes relativas ao comércio com a América Latina e à diplomacia reservada aos adversários americanos na região. Essa é a opinião de analistas ouvidos pela BBC Brasil.

“Sem dúvida, o Partido Democrata se tornou mais protecionista nos últimos dez anos. E se obtivermos não apenas um presidente democrata, mas também um Senado e, em especial, um Congresso dominado pelos democratas, isso será ainda mais realçado”, diz Riordan Roett, especialista em América Latina da Johns Hopkins University.

Para Roett, uma Casa Branca com Obama no comando poderia até ser mais flexível em relação a temas comerciais, mas apenas se a situação econômica americana houver avançado até a posse presidencial, em 20 de janeiro.

“Isso daria a Obama maior margem de manobra, mesmo com um Congresso de maioria democrata, mas é improvável que essa melhoria econômica ocorra”, diz Roett.

Ansiedade

“Existe claramente muita ansiedade nos Estados Unidos em relação a temas como livre comércio e globalização, por isso Obama adotou as posturas que tomou durante a campanha”, afirma Michael Shifter, vice-presidente do instituto de pesquisas Inter American Dialogue.

O candidato democrata afirmou ainda durante a disputa presidencial que iria renegociar o Nafta, a sigla em inglês pela qual é conhecido o tratado de livre comércio firmado entre Estados Unidos, México e Canadá.

“Mas é um erro prever que o que ele falou na campanha é exatamente o que ele irá realizar se eleito presidente. Alguns temas oferecem muita flexibilidade”, diz Shifter.

O analista destaca que McCain viajou várias vezes à América Latina, ao passo que Obama é um “novato” para a região e que o republicano provavelmente ofereceria políticas mais claras em relação a ao menos um tema de interesse do Brasil.

“Ele comprou brigas ao se posicionar contra as tarifas oferecidas para o etanol americano e, se eleito presidente, provavelmente irá tentar derrubar as sobretaxas cobradas sobre o etanol brasileiro”, acrescenta Shifter.

Os Estados Unidos cobram uma sobretaxa de US$ 0,54 o barril sobre a versão brasileira do biocombustível.

Presidente x Congresso

Riordan Roett concorda que “McCain seria um presidente mais progressista em temas comerciais”, mas acredita que isso de pouco adiantará “se tivermos um Congresso mais conservador em relação ao mesmo tema”.

O analista vê, no entanto, uma disparidade entre a suposta postura progressista comercial do republicano e sua retórica para a região, em especial no que diz respeito a países com quem os Estados Unidos vêm tendo atritos, como Venezuela e Bolívia.

“A campanha de McCain foi tomada pelos roveanos (que seguem a linha do ex-assessor político do presidente George W. Bush, Karl Rove), que deverão voltar em um eventual governo seu. Eles são muito conservadores e não deverão defender nenhuma tentativa de estabelecer diálogo”.

Amigos e adversários

De acordo com Michael Shifter, “McCain tem um padrão de dividir o mundo entre amigos e adversários” e a visão dele para a região seguiria essa tendência, recompensando amigos como Brasil e Colômbia, mas punindo a adversários como Venezuela e Bolívia.

“Nós já vimos, por parte de McCain, uma retórica muito agressiva em relação a (Hugo) Chávez. Uma administração republicana provavelmente seria mais confrontadora em relação a Bolívia e Venezuela”, afirma.

“Obama aceitaria um diálogo, como ele próprio já afirmou, mas isso não significa que ele irá aceitar a linha oferecida por Chávez”, acrescenta Shifter.

Simpatia pelo Brasil

Mas se há um consenso de que poderão surgir novos choques entre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e os Estados Unidos, quer Obama quer McCain cheguem à Casa Branca, há também uma unanimidade entre os analistas de que a postura em relação ao Brasil será estável tanto com uma vitória do republicano como do democrata.

“McCain já foi ao Brasil várias vezes e sabe que a administração Bush, que é conservadora, foi perfeitamente capaz de trabalhar com Lula, um líder de centro-esquerda. Ele está disposto a trabalhar com todos, exceto com a extrema-esquerda e a extrema direita”, comenta Otto Reich, assessor do republicano e ex-chefe da diplomacia para a América Latina do governo Bush.

“Seja quem for o vencedor, a política para o Brasil não irá mudar. O país é uma democracia consolidada, com uma economia diversificada, elevadas reservas, inflação sob controle e o presidente Lula apóia políticas fiscais conservadoras, o que cai bem em Washington”, diz Riordan Roett.

Michael Shifter afirma que tanto Obama como McCain acreditam que o Brasil desempenha “um papel muito construtivo para a região, ainda mais em um momento em que os Estados Unidos perderam influência na América Latina”.

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