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Nasce a RaW, parceria entre Raízen e Wilmar

Leonardo Gadotti, presidente do conselho de administração da RaW: união "fazia todo o sentido em termos de sinergias"
Leonardo Gadotti, presidente do conselho de administração da RaW: união “fazia todo o sentido em termos de sinergias”

Já nasce grande no mercado de açúcar o resultado da aliança entre a Raízen, maior fabricante da commodity no Brasil, controlada por Cosan e Shell, e a Wilmar, uma das maiores tradings e refinadoras do produto na Ásia. Batizada de RaW – em alusão ao termo em inglês que define o açúcar bruto -, a joint venture será lançada hoje pelas companhias com a promessa de ser a segunda maior originadora de açúcar brasileiro para exportação.

Em seu primeiro ano completo de operação, que corresponderá à safra brasileira 2017/18, que terá início em abril, a RaW deverá entregar nos portos cerca de 4,5 milhões de toneladas de açúcar VHP, volume que é hoje originado no país pelas 24 usinas da Raízen e pela Wilmar. Foi o que afirmou ao Valor Leonardo Gadotti, vice-presidente executivo de logística, distribuição e trading da Raízen e que passa a presidir o conselho de administração da joint venture. A sede da RaW será em Cingapura, como a da Wilmar, mas contará com escritório operacional em São Paulo. O CEO será Jean Luc Bohbot, head de açúcar da Wilmar.

A criação da RaW faz frente a um rearranjo no segmento que começou com a união entre Copersucar e Cargill para a criação da Alvean, em 2014, e reforça uma tendência de consolidação que caminha com mais facilidade no lado da comercialização de açúcar do que da produção. “É uma tendência global no mercado de açúcar e o Brasil, como maior produtor do mundo, não poderia ficar longe dela”, disse Gadotti.

Diferentemente da Alvean, que em 2015/16 originou 5 milhões de toneladas de açúcar no Brasil, a RaW deve atuar só na originação de açúcar VHP, entregando nos portos o produto que sai das usinas na modalidade Free On Board (FOB), que reparte responsabilidades do embarque entre vendedor e comprador.

A tacada une não apenas duas empresas que já são grandes no segmento, mas duas pontas que normalmente estão em lados opostos: enquanto a Raízen é líder no maior país produtor da commodity, a Wilmar é uma das maiores compradoras globais de açúcar e se destacou, nos últimos meses, como a principal recebedora do açúcar bruto entregue nos vencimentos dos contratos futuros na bolsa de Nova York.

Assim, disse Gadotti, a união “fazia todo o sentido em termos de sinergias e de potencial para explorar melhor o mercado”. Além disso, a Wilmar já era uma das principais clientes da nova parceira. As operações da RaW deverão contribuir para a determinação das estratégias de produção da Raízen, que faturou R$ 12,2 bilhões na safra 2015/16 e poderá ter, agora, uma visão ainda mais ampla das demandas do mercado, de acordo com o executivo.

A estratégia de verticalização não é novidade para a Raízen, que já acessa diretamente o mercado doméstico de etanol por meio de sua rede de distribuição de combustíveis. Tampouco o é para a Wilmar, que já vem estabelecendo parcerias com empresas locais para garantir a originação de açúcar e o refino do produto. Em 2015, a receita da empresa asiática apenas com o negócio de açúcar foi de US$ 4,4 bilhões, 80% provenientes de operações de trading – no total, o faturamento da Wilmar chegou a US$ 38,8 bilhões.

Em 2010, a Wilmar fez sua primeira incursão na área sucroalcooleira com as aquisições da produtora australiana de açúcar Sucrogen e da refinadora indonésia Jawamanis Rafinasi. De 2013 a 2015, adquiriu participações em empresas de Marrocos e Mianmar. No Brasil, sua atuação é indireta, já que detém 50% da indiana Shree Renuka Sugars – que, além de possuir sete usinas na Índia, tem duas em São Paulo e duas no Paraná.

A joint venture não nasceu sem alguns questionamentos. Embora o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) tenha aprovado sua criação sem restrições, diversas empresas consultadas pelo órgão expuseram suas preocupações com a concentração do mercado de açúcar para exportação, conforme documentos que constam no processo. Mas o Cade considerou que há outras tradings no mercado com as quais os produtores podem negociar sua oferta. Além disso, também levou em consideração que boa parte do açúcar exportado pela Raízen já era movimentado pela Wilmar.

O Cade observou, ainda, que nem a Raízen tem mais de 30% de participação na produção brasileira de açúcar nem a Wilmar tem mais de 30% da comercialização da commodity no país. E, embora algumas tradings tenham se manifestado no processo de consultas do Cade sobre a concentração de mercado de exportação no porto de Santos – onde a Rumo, controlada pela Cosan, tem terminal de embarque de açúcar -, dois representantes de empresas concorrentes afirmaram que também podem contar com outros terminais. Um deles está sendo construído pela VLI Logística, deverá ficar pronto em 2017 e terá capacidade inicial para escoar 3,7 milhões de toneladas de açúcar por ano.

Fonte: (Valor)

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