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Mecanização: o relevo não é mais obstáculo na Mata

As máquinas começaram a executar uma tarefa que ao longo dos últimos cinco séculos foi feita exclusivamente pela mão humana: o corte da cana-de-açúcar na Zona da Mata de Pernambuco.

Nesta safra, pelo menos seis usinas usaram modernos equipamentos de forma experimental para colher a cana. As primeiras experiências mostraram que há viabilidade econômica na mecanização em área de ladeira.

Até então, era comum o sentimento de que a mecanização de colheitas só era possível em terrenos planos. E esta parecia ser uma grande diferença entre os canaviais de Pernambuco e os do Centro-Sul do País, que têm a cana mais barata do mundo.

A mecanização em Pernambuco se dá de forma articulada. Doze usinas que atuam no Estado forma ram um grupo, investiram R$ 2,5 milhões para importar seis máquinas e pesquisar como a colheita mecanizada é feita em outras partes do mundo, também acidentadas.

O resultado foi que duas máquinas se mostraram viáveis e algumas empresas vão importar mais equipamentos para a próxima safra. “Ainda não está definido quantas máquinas serão compradas pelas usinas”, diz o consultor do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool (Sindaçúcar), Raul Fernandes, que está à frente do projeto. A expectativa é que num prazo de 5 a 10 anos grande parte da cana-de-açúcar do Estado seja colhida de forma mecanizada.

As máquinas que apresentaram o melhor resultado foram uma escavadeira hidráulica japonesa acoplada com um equipamento francês que pode cortar até 80 toneladas de cana por dia – em áreas de ladeira com declividade de mais de 30 graus – e outra japonesa que colhe 200 toneladas diariamente numa área com declive de até 15 graus.

Um cortador de cana consegue, em média, col her 4,5 toneladas por dia. Isso significa, respectivamente, que a primeira faz o trabalho de 17 homens e a segunda, de 44.

O setor sucroalcooleiro emprega cerca de 90 mil pessoas, dos quais 70 mil estão no campo, sendo 40 mil homens no corte, segundo o Sindaçúcar. “Não acho ruim a mecanização. Sinto que vão aparecer outros empregos. Na última safra, já trabalhei de ajudante de pedreiro”, disse o cortador de cana, Manoel Rivaldo Felix da Silva, de 33 anos, que corta cana desde os nove anos de idade. Ele mora em João Alfredo, no Agreste do Estado, e trabalha, durante a safra, em Sirinhaém, na Mata Sul.

A ampliação da colheita mecanizada deve ir ocorrendo, aos poucos, com os aperfeiçoamentos que podem ser implementados nas duas máquinas. “Com esta experiência, percebemos que 40% das terras da usina poderiam ser mecanizadas. Isso pode se ampliar, dependendo do desenvolvimento que o equipamento apresentar”, diz o diretor d a Usina Central Olho D’Água, Gilberto Tavares de Melo, acrescentando que as empresas da Mata Norte e Sul tiveram dificuldade para contratar mão de obra nesta safra.

O aquecimento da economia fez uma parte dos canavieiros migrarem para os empreendimentos que estão se implantando em Suape. Nesta safra, uma usina da Mata Sul chegou a trabalhar com menos 200 pessoas. Com isso, a colheita se estendeu por mais um mês na região, que deve encerrar a safra em março.

Também contribuiu para o início da mecanização a questão ambiental. Para cortar manualmente, a cana-de-açúcar precisa ser queimada. “No futuro, isso pode espantar um tipo de consumidor ambientalmente mais correto”, lembra o presidente do Sindaçúcar, Renato Cunha. A partir de 2017, serão implantadas restrições graduais contra as queimadas. Trata-se de um exigência mundial.

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