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Entenda porque China e Brasil provocaram uma guerra comercial por biocombustíveis

Ao longo de sua campanha, o presidente norte-americano Donald Trump expressou apoio inabalável ao mercado de etanol dos EUA. Agora que ele está na Casa Branca, os líderes da indústria dizem que é hora de Trump validar seu discurso com ações diante do que cada vez mais parece uma guerra comercial pelos biocombustíveis entre EUA, Brasil e China

Segundo os líderes do setor de etanol dos EUA, o governo americano está avaliando como responder à penalidade imposta à China sobre as importações de etanol e, mais recentemente, uma ação do Brasil que aprovou uma tarifa de 20 por cento na importação de etanol para volumes que excederem uma cota de 600 milhões de litros. Espera-se que ambas as tarifas causem desequilíbrio no mercado de etanol americano, que é altamente dependente dos crescentes mercados de exportação da China, do Brasil e em outras nações ao redor do mundo.

Nem o Departamento de Comércio nem o escritório do Representante de Comércio dos EUA deram respostas aos pedidos de comentários sobre como a administração deve responder. Mas a pressão para que a Casa Branca repudie as ações com rapidez e força está crescendo.

“No geral, como indústria, queremos que o nosso governo responda com igual magnitude na perda econômica que teremos com a instituição destas tarifas “, disse Emily Skor, CEO da Growth Energy, uma associação comercial que representa produtores de etanol americanos.

“Estamos começando a conversar com o governo dos Estados Unidos para entender quais são as opções disponíveis”, acrescentou ela, em relação à possível resposta à tarifa do Brasil.

A iniciativa do Brasil, disseram os analistas, é uma resposta aos produtores de etanol de cana-de-açúcar do próprio país, que pressionaram o governo para diminuir a importação do biocombustível americano e instituir medidas protecionistas tornando o etanol brasileiro mais competitivo. O Brasil é o principal concorrente dos EUA no mercado mundial de produção de etanol.

Da mesma forma, a China está mirando um aumento importante em sua própria produção de etanol, o que levou o país a cobrar impostos mais altos sobre as importações americanas de etanol.

Dinneen: China está agindo contra as importações americanas

Assim como o Brasil, a China está agindo contra as importações americanas porque percebeu que sua própria indústria não pode se manter em condições equitativas. “Eles têm grãos excedentes que estão tentando utilizar. Eles não poderiam competir com o etanol dos EUA e nossos subprodutos alimentares “, disse Bob Dinneen, presidente e CEO da Associação de Combustíveis Renováveis (Renewable Fuels Association), o principal grupo de comércio da etanol.

Na China, o governo Trump no início deste ano aproveitou o ex-governador de Iowa, Terry Branstad, para ser embaixador dos Estados Unidos. Branstad, um republicano oriundo de um estado que teve crescimento econômico maciço devido ao etanol,  deverá exercer pressão sobre os chineses para afrouxarem suas tarifas sobre os produtos americanos.

Recentemente, Trump também assegurou ao senador Charles E. Grassley, republicano de Iowa, que cumprirá suas promessas de campanha e defenderá o mercado de etanol, embora ele não tenha detalhado quaisquer possíveis respostas às ações da China.

“Acabei de receber um telefonema do presidente e ele me assegurou que é pró-etanol . Eu garanto ao povo de Iowa, ele vai cumprir sua promessa de campanha”, tuitou Grassley depois de um telefonema com o presidente na semana passada. “Ele sabe que o etanol é bom”.

A situação com o Brasil pode ser mais complicada. Embora o País tenha sido, até então, um dos principais mercados de exportação para o etanol dos EUA, o Brasil também é uma fonte importante de produtos de biocombustíveis avançados, exigidos pela lei americana.

O RFS (sigla para Renewable Fuel Standard), a norma de 2007 que exige que  etanol seja mesclado com parte de gasolina americana, exige que certas  porcentagens de biocombustíveis “avançados” sejam misturadas gradualmente a cada ano. O etanol de cana-de-açúcar produzido no Brasil se qualifica como biocombustível avançado, ao contrário do etanol à base de milho produzido em locais como o Iowa.

Embora os EUA pudessem responder  colocando uma tarifa sobre o etanol de cana-de-açúcar brasileiro, tal ação tornaria mais difícil cumprir as obrigações decorrentes do RFS e poderia levar à outras consequências imprevistas.

Joel velasco, da Albright Stonebridge Group

“Os EUA têm muito poder de barganha – do RFS à retaliação comercial em outros produtos importantes para o Brasil. Não posso especular o que a administração Trump fará, mas aumentar as barreiras é uma proposta fadada ao fracasso “, afirma Joel Velasco, ex-representante norte-americano da Associação da Indústria de Cana-de-açúcar (UNICA).

De modo geral, os líderes do mercado de etanol americana dizem que é importante que a administração Trump responda fortemente ao Brasil e à China para enviar uma mensagem clara às outras nações ao redor do mundo e parar uma guerra comercial generalizada.

Estamos assistindo alguns dos nossos maiores parceiros comerciais colocarem barreiras protecionistas. Primeiro a China, agora o Brasil. É uma tendência preocupante “, disse Skor. “Nós temos que descobrir o que fazer”.

Outros dizem que ainda há tempo para prevenir a deterioração da situação, mas apenas se a administração agir de forma decisiva.

“Há conflitos. E espero que isso não se transforme em uma guerra comercial “, disse Dinneen.

 

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