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Entenda como a Raízen e a Geo irão fazer biogás a partir de vinhaça e da torta de filtro

Unidade Bonfim da Raízen, em Guariba: primeira usina mundial de biogás (Foto: Delcy Mac Cruz)

A Raízen Energia, controladora de 26 unidades produtoras, e a Geo Energética, com centro de pesquisas em Londrina (PR), lançaram na quinta-feira (23/08) a pedra fundamental da primeira planta do mundo a utilizar a tecnologia de conversão de torta de filtro em biogás.

A planta ficará em anexo à unidade Bonfim, localizada em Guariba, no interior paulista, e deverá iniciar a produção em escala comercial a partir de 2020.

“Decidimos pela unidade Bonfim pela sua capacidade de moagem de 5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra”, disse Luiz Henrique Magalhães, presidente da Raízen, durante solenidade de lançamento da pedra fundamental.

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Como tem grande capacidade de moagem, a Bonfim também gera grandes volumes de vinhaça e de torta de filtro.

Para implantar a usina de biogás, a Geo e a Raízen criaram joint-venture da qual a primeira detém 85% do controle a e a companhia sucroenergética da Cosan e da Shell detém 15%.

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Mas como a joint-venture produzirá biogás a partir de vinhaça e de torta de filtro?

Em relato, a empresa destaca que o biogás resulta de um complexo processo produtivo em que biodigestores convertem a matéria orgânica da torta (resíduos restantes da purificação do caldo da cana, que é composta de 70% de água, 18% de matéria orgânica e 12% de outros sólidos) e da vinhaça (água restante do processo de destilação, composta por 95% de água, 3% de sais e 2% de carga orgânica) em metano e CO2, o chamado biogás.

Essa mistura, conforme a empresa, passa por um processo de dessulfurizaão – para a purificação do gás – e então vai para motogeradores.

A joint-venture utilizará o biogás a produzir energia elétrica. E é nesses geradoras que o biogás será transformado em eletricidade.

Substituto do diesel

Uma vez purificado, o biogás apresenta as mesmas características que o gás natural (95% metano), sendo assim também possível de ser utilizado, na forma de biometano, como substituto ao diesel como combustível de tratores e caminhões.

O emprego do biogás em biometano, no entanto, é objeto de estudo dos gestores da joint venture. Durante entrevista coletiva na quinta-feira (23/08), os representantes explicaram que não há previsão de empregar o biometano em frota. Antes, serão feitos pilotos de avaliação de torque do produto.

Evaldo Fabian, diretor da GEO, relatou que a unidade produtora da Cooperativa Agrícola Regional de Produtores de Cana Ltda. (Coopcana) prepara-se para rodar parte de sua frota com biometano. “Será em fase de testes com veículos rodando até o município de Maringá”, disse ele na entrevista.

A Coopcana controla unidade produtora em São Carlos do Ivaí (PR) e implantou, em parceria com a GEO, planta comercial de biogás em 2012 com capacidade instalada de 4 megawatts a partir da reciclagem de vinhaça, torta de filtro e palha.

A joint venture da GEO e da Raízen prevê investimentos de R$ 153 milhões na planta para geração de biogás. A produção de biometano, segundo apurou o JornalCana com executivos da Raízen, exigirá aporte adicional.

Artur Yabe Milanez, representante do BNDES no evento, disse ao JornalCana que 80% dos R$ 153 milhões serão custeados pelo banco público.

Como será a produção

A futura usina de biogás de Guariba utilizará dois terços de vinhaça e um terço de torta de filtro, conforme destacou Alessandro Gardemann, diretor da GEO.

A combinação da torta de filtro com a vinhaça para obtenção de biogás na nova planta permitirá uma produção de 138 mil megawatts-hora (MWh) por ano, suficientes para abastecer, por exemplo, um cidade do porte de Guariba e as cidades próximas a ela.

Dos 138 mil MWh, 96 mil MWh já estão vendidos em contrato de leilão vencido em 2016 pela Raízen. A entrega começa em janeiro de 2021 e o contrato vigora por 25 anos, com o MWh reajustado uma vez por ano pelo IPCA.

A diferença entre os 96 mil MWh contratados e a geração será negociada no mercado livre ou por meio de outros contratos.

“Com essa iniciativa, consolidamos mais uma vez nosso papel como protagonistas da sustentabilidade por meio da economia circular, ao aproveitarmos todos os resíduos e insumos utilizados em nossos processos na geração de novos produtos”, disse João Alberto Abreu, vice-presidente executivo da área de Etanol, Açúcar e Energia da companhia sucroenergética.

Luiz Henrique Magalhães, presidente da Raízen, explicou ao JornalCana que a produção de biogás também deverá ser aplicada a outras unidades da companhia assim que os custos de geração sejam adequados. Outro motivo que, segundo ele, deverá incentivar investimentos em mais plantas de biogás são leilões de compra de eletricidade. 

 

 

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