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Economia fraca afeta mercado de terras

Apesar de, em geral, até agora ter sido preservado de uma desaceleração brusca, em boa medida graças à valorização do dólar em relação ao real, o agronegócio brasileiro não está imune aos impactos da difícil conjuntura político-econômica do país e da queda das cotações internacionais das commodities. E, por um motivo ou outro, um dos mercados que já acusaram o golpe é o de comercialização e arrendamento de terras aptas para lavouras.

Com menor liquidez, devido às grandes extensões e preços altos – e também em função das incertezas sobre o futuro das compras de terras por estrangeiros no Brasil, que segue em discussão -, as propriedades rurais nas principais regiões de produção não estão sendo trocadas de mãos. As turbulências paralisaram as negociações.

“Amornou geral”, afirma Noemia Brito, oficial do 2º Cartório de Registro de Imóveis de Barreiras, região de soja, milho e algodão no oeste da Bahia. Segundo ela, a queda no número de escrituras de venda de propriedades rurais no primeiro semestre deste ano foi superior a 50% na comparação com o mesmo período do ano passado. “A situação ruim do país e a seca dos últimos três anos aqui na região não estão estimulando ninguém a investir mais em terra”.

A “calmaria” no interior se deve mais à ponta compradora que à vendedora. Conforme corretores de diferentes praças ouvidos pelo Valor, há terras para vender, mas poucos dispostos a pagar o preço. Seja em valor nominal ou real, o preço médio do hectare permanece em alta.

Levantamento da consultoria Informa Economics FNP, mostra que no oeste baiano, por exemplo, as áreas para agricultura registraram valorização média anualizada de 7,2% nos 36 meses encerrados em junho em termos nominais – e de 1,1% descontada a inflação. Em Balsas, principal polo de grãos do Maranhão, a alta real foi de 13,2%. Sinop, no norte de Mato Grosso, ficou com o hectare 4,6% mais caro, em uma tendência que permeou praticamente todas as regiões produtoras.

O valor da terra continua estável ou crescente porque o brasileiro é conhecido por ser patrimonialista – a propriedade é a última coisa que ele costuma vender – e porque há limitação de áreas abertas e de alto potencial produtivo, como observa Márcio Perin, analista da Informa. Mas isso não significa liquidez.

“Quem quer comprar está apostando que a crise vai piorar e que poderá pagar menos ou simplesmente não tem coragem de investir nesse cenário”, afirma o corretor independente Hélio Dallagnol, de Lucas do Rio Verde (MT). Ele diz não ter conseguido fechar este ano “uma venda sequer” de fazenda na área de influência da cidade, cravada no cinturão brasileiro de grãos.

Termômetro mais importante, no entanto, está nos negócios de arrendamento. Ao contrário do preço para compra e venda da terra, que não está necessariamente relacionado à conjuntura, o arrendamento absorve os reveses na economia e no mercado de commodities. Isso porque, muitas vezes, são contratos que atrelam o aluguel do hectare a um volume pré-fixado de produtos agrícolas entregue.

Com a desvalorização dos grãos, que pressionou as margens do produtor, os contratos de arrendamento passaram a ser renegociados com volumes inferiores ou simplesmente substituídos. No polo de Sorriso, Nova Mutum e Lucas do Rio Verde, as 13 toneladas de soja comumente cobradas por um hectare de alto potencial agrícola caíram para 9 ou 10 sacas, de acordo com os corretores.

No levantamento da Informa, a média de preços ofertados pelo hectare arrendado no país sofreu um recuo real de 1% – e de 7,1%, em termos nominais – no período de 12 meses encerrado em junho, variando para mais ou para menos dependendo da cultura agrícola a ser destinada à área. Em um período mais longo, de 36 meses, houve alta real de 7,5% nos preços (14% em termos nominais) na média nacional – o que reforça o impacto da crise nas negociações de contratos de arrendamento de terra.

Aspectos locais também influenciam essa negociação. Em Ribeirão Preto (SP), o hectare para aluguel perdeu apenas 0,1% (4,9% em valor nominal) em 12 meses, uma queda bem menos expressiva. Polo sucroalcooleiro, a região tem alta concentração de usinas, e a disputa por terra tem se mantido mais acirrada.

Em regiões com forte presença de áreas de conservação florestal e limitação para expansão agrícola, a lei de mercado também tem contribuído para a manutenção de preços, tanto na venda quanto no arrendamento de terras. O hectare arrendado de pastagem, por exemplo, subiu a médias anualizadas de 2,54% e 16,8% nos 12 e 36 meses encerrados em junho, respectivamente.

Mas essas são exceções. As principais culturas amargaram queda no hectare alugado. O arrendamento mais barato foi e continuará sendo a tônica em 2015.

Fonte: (Valor)

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