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Depois da crise, Equipav planeja voltar a crescer

Em 2010, a Equipav vendeu 50% de seu negócio em açúcar e álcool, desfez a sociedade que tinha junto com a Bertin na Cibe Participações e entregou ao sócio todos os contratos em geração de energia – 26 térmicas. Não bastasse, a família Tarallo, dona de um terço da Equipav ao lado das famílias Vetorazzo e Toledo, decidiu sair levando outros ativos.

Mas os sócios remanescentes da Equipav ficaram com o presidente da Cibe, Hamilton Amadeo, e delegaram a ele a tarefa de reerguer o grupo. Com alguns ativos grandes em saneamento, uma construtora de médio porte e projetos de usinas de cana na gaveta, a empresa quer refazer suas contas e lançar no início do ano que vem um balanço detalhado das contas do grupo, junto a um novo plano de investimentos.

Mesmo com as perdas, a receita do grupo ainda é de cerca de R$ 1,2 bilhão, e o endividamento, relativamente baixo, garante Amadeo – inferior a duas vezes o Lajida (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), enquanto o valor considerado alto no ramo de infraestrutura é de três vezes.

Originada de uma empresa de pavimentação de Campinas (SP) nos anos 60, a Equipav entrou no ramo sucroalcooleiro nos anos 80, passou a explorar brita para construção e nos últimos anos se envolveu em atividades tão diversas como coleta de lixo, concessões rodoviárias e geração de energia- desde 2006 em sociedade com o grupo Bertin, na Cibe.

O primeiro sinal de problemas na Equipav chegou com o anúncio da venda sua divisão de açúcar e álcool. Além de sua antiga usina em Promissão (SP), a Equipav estava construindo uma nova unidade com objetivo de dobrar a capacidade do grupo, chegando a 12 milhões de toneladas/ano de cana. No início de 2010, o negócio foi fechado com a indiana Shree Renuka, que levou 50,34% do braço de açúcar e álcool do grupo por R$ 450 milhões.

Segundo Amadeo, havia outros interessados no negócio, mas o diferencial dos indianos era deixar a Equipav com uma parcela substancial do negócio – outros dois grupos queriam levar 100%. Apesar da diferença no preço oferecido inicialmente pela usina – R$ 600 milhões – e o valor pago após as negociações, R$ 150 milhões menor, o executivo diz que os sócios estão satisfeitos. O preço, diz, refletiu o movimento nos custos do produto, e a sociedade vai bem – os indianos trouxeram ao grupo uma boa estrutura de comercialização internacional do produto.

A empresa esteve a ponto de vender todos os ativos da Cibe para repartir o dinheiro com a Bertin, mas os sócios chegaram a um acordo e dividiram as concessões. A Bertin ficou com a marca Cibe, os ativos em energia e a maior parte dos negócios em rodovias, e a Equipav fundou a Aegea, onde ficaram os dois maiores contratos de saneamento e uma das concessões rodoviárias.

Segundo Amadeo, o grupo pensou em desfazer a sociedade e vender parte dos ativos porque dividí-los seria complicado, mas ambos os sócios consideravam as operações interessantes. Os concorrentes ficaram de olho sobretudo na operação de saneamento de Campo Grande (MS) e na Colinas, concessão rodoviária no interior paulista. “Ainda há gente interessada nos ativos, mas não vamos vender”, diz Amadeo.

Com a dissolução da sociedade na Cibe, a Bertin pagou um “troco” – uma diferença entre a precificação dos ativos – de R$ 80 milhões à Equipav, e assumiu R$ 100 milhões em dívidas da Cibe.

A Equipav tinha um grande volume de dívida de curto prazo e pedidos de R$ 1,6 bilhão pré-enquadrados no BNDES. Os ventos mudaram no fim de 2008, e a saída foi recuar. “Quando começa uma crise e você faz as coisas no tempo certo, vai se sair bem mais na frente”, diz o presidente do grupo.

Em setembro de 2008, às vésperas da crise disparada pela quebra do Lehman Brothers, a Cibe arrematou nada menos do que 21 usinas térmicas em um leilão promovido pela Aneel. A Cibe já possuía cinco contratos para usinas de um leilão anterior, e com o novo lance se transformariam em candidatos a posar entre os maiores geradores de energia do país, com capacidade para 5 mil MW. O problema é que os contratos somados exigiam investimentos de R$ 12 bilhões.

De acordo com Hamilton Amadeo, as usinas são bons negócios, mas estavam além dos planos do grupo. “Creio que não teríamos capacidade para buscar os recursos necessários”, diz. Na repartição de bens, a Bertin, com muito dinheiro em caixa desde que vendeu sua divisão de carnes para a JBS em 2007, ficou com todas as usinas, e corre contra o tempo para colocá-las funcionando no prazo.

A família Tarallo, dona de um terço da Equipav, saiu levando as divisões de coleta de lixo e produção de argamassa da Equipav, e ficou com uma participação da Colinas. As duas famílias restantes ficaram com 50% da Equipav cada.

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