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Cresce poder de fogo das usinas na negociação de etanol anidro

Diferentemente do que aconteceu há um ano, quando os preços do etanol ainda estavam sob o efeito de perspectivas pessimistas, as usinas do país negociam hoje com as distribuidoras munidas de mais cartas na manga.

As atuais cotações do etanol e do açúcar, mais elevadas, devem ajudar as usinas a firmarem contratos de anidro a preços mais atrativos para a safra 2016/17.

Até 31 de março, os dois lados – usinas e distribuidoras – precisam firmar acordos de compra e venda de 70% do etanol anidro que será misturado à gasolina nos próximos 12 meses, conforme regras da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Na mesa, um volume de 7,7 bilhões de litros e um montante superior a R$ 16 bilhões.

Com o açúcar remunerando mais do que o etanol, a tendência é de que a produção do biocombustível não cresça muito ou fique estável na próxima safra, a 2016/17, que começa em 1º de abril, uma vez que as usinas devem destinar mais caldo da cana para fabricação do açúcar.

Afora isso, os estoques do biocombustível neste ano estão mais baixos do que em 2015, quando o consumo do produto no país foi recorde, diz Bruno Lima, da consultoria americana FCStone.

Por isso, ele avalia que a tendência é de os contratos de compra e venda de anidro voltarem a remunerar o produto em patamares mais próximos dos preços históricos. Isto é, com um prêmio de 13% a 14% sobre o etanol hidratado – usado como combustível.

No ano passado, quando os estoques estavam altos e havia perspectiva de uma produção grande na safra, as distribuidoras ganharam na queda de braço e conseguiram pressionar os prêmios para patamares entre 10% e 11%. “Os estoques altos no início de 2015/16 atrapalharam muito as usinas. Em alguns casos, contratos de anidro foram fechados com apenas 9,5% de prêmio”, observa Lima.

Pelas regras da ANP, depois que as distribuidoras apresentam ao órgão regulador contratos de aquisição de 70% do anidro que vão misturar nos 12 meses, têm o direito de comprovar a aquisição de outros 20% até 1º de junho, cumprindo, portanto, a determinação de deixar “em aberto” apenas 10% da demanda projetada.

Esse sistema, regulamentado pela ANP há cerca de quatro anos, é considerado ineficiente por parte do mercado, por forçar que haja a compra e venda de um grande volume de etanol num espaço curto de tempo, avalia o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari.

Em sua visão, esses contratos têm outra falha que é a de referenciar os preços do anidro com base no preço spot (à vista) do hidratado, quando deveriam se basear no preço futuro do anidro.

Na região Nordeste, as usinas também reinvidicam que a ANP regionalize a obrigatoriedade desses contratos antecipados de anidro, segundo o presidente do sindicato que representa as usinas de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha. “As portarias da ANP deveriam fomentar compras antecipadas na região Nordeste. As distribuidoras priorizam compras no Centro-Sul”.

Em oito dias úteis, termina o prazo para a apresentação desses contratos pelas distribuidoras. Para Lima, da FCStone, não há perspectiva de mudanças drásticas nos fundamentos do setor.

No entanto, o consumo de combustíveis do Ciclo Otto (gasolina e etanol) está um pouco menor neste ano. O comportamento daqui em diante ainda é uma dúvida”, afirma. Para a Datagro, o consumo de anidro em 2016/17 será de 12,02 bilhões, 6,4% acima do projetado para 2015/16 (11,3 bilhões).

Fonte: (Valor)

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