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Crédito rural é para poucos

A denúncia feita esta semana à Folha Rural pelo presidente do Sindicato Rural de Campina da Lagoa (100 km ao sul de Campo Mourão), engenheiro agrônomo Marcelo Favarão, de que os produtores não encontram crédito a juros de 8,75% ao ano, foi confirmada por pesquisa feita pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

Segundo Favarão, os bancos atendem apenas uma parte das necessidades dos produtores, quando há crédito. Para completar a demanda, oferecem crédito a taxa de 1,1% ao mês. Segundo cálculos dos próprios bancos, essas taxas acabam onerando o custo do dinheiro que, no final, se compara ao custo da captação no mercado financeiro, o que é inviável para qualquer atividade econômica, principalmente para atividade de risco como a agricultura.

A pesquisa da Confederação da Agricultura (CNA), identificou que o produtor rural depende do crédito bancário para trabalhar, mas dificilmente é atendido pelas linhas de financiamento com juros equalizados oferecidas pelo governo (taxas fixas, geralmente de 8,75% ao ano).

Entrevistas com 3.037 produtores mostrou que 62% precisam de crédito junto a bancos para financiar suas atividades. Dos produtores que buscam financiamento, 69% conseguem menos da metade do total de crédito necessário em linhas que cobram juro anual de 8,75%. Parcela de 29% dos produtores que precisam de crédito negociam menos que 10% do financiamento necessário com juros equalizados.

O restante das necessidades de financiamento precisa ser suprida com operações de crédito a juros de mercado, que cobram 39% ao ano das pessoas jurídicas e 86,3% anual das pessoas físicas, conforme dados do Banco Central divulgados esta semana.

A oferta de crédito a juro anual de 8,75%, considerado o modelo atual de concessão de financiamento para custeio e investimento, é insuficiente para atender a demanda do setor rural. A pesquisa mostrou que 87% dos produtores consultados têm interesse em acessar maior volume de recursos com taxas equalizadas. Mas não é fácil obter financiamento com taxas mais baixas.

Respostas de 54% dos produtores apontam que os bancos atuam com excesso de burocracia. Parcela semelhante dos entrevistados reclama que são baixos os limites de financiamento por tomador.

Nas linhas Prosolo e Propasto, por exemplo, o máximo de crédito concedido é de R$ 150 mil por produtor. A Proposta do Setor Produto para o Plano Agrícola e Pecuário 2003/2004, já encaminhado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sugere que esse limite seja elevado para R$ 300 mil por produtor.

Segundo o Projeto Conhecer, da CNA, que executou a pesquisa, há forte demanda por linhas específicas de crédito para investimento. Dos produtores que buscaram crédito de investimento, 82% já tentaram acesso ao crédito do Moderfrota; 54% procuraram financiamento do Propasto e 51%, do Prosolo.

São elevados, entretanto, os índices de insucesso na busca de crédito para investimento. Dos produtores que buscaram recursos do Proirriga, 57% não conseguiram financiamento; o que também ocorreu com 54% dos que tentaram crédito do Propasto.

Ao mesmo tempo em que existem linhas com forte demanda, há programas pouco procurados, como o Prodamel ou Procacau, este último por ser de interesse regional.

Ambos geraram interesse de apenas 1% dos produtores. Em contrapartida, falta financiamento com juros equalizados para segmentos estratégicos. Parcela de 54% dos produtores responderam espontaneamente que gostariam de ter acesso a crédito para aquisição de animais, melhoria genética, recria e engorda. Não existe atualmente programa específico que atenda essa demanda.

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