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Com a doçura do açúcar

Liberdade é a melhor lembrança da infância do empresário Jorge Petribú, 59 anos. Um recifense, caçula de oito filhos, que cresceu livre na usina do seu pai Paulo Petribú, ainda no distrito de Paudalho. Lá, podia subir em árvore, tirar fruta do pé, pescar, brincar com animais.

Essas memórias ficam guardadas num espaço mais que especial das recordações. E é esta liberdade que divide com os nove netos, rebentos dos seus três filhos. “Na casa do vovô, tudo pode. Menos mentir.” É a norma. Uma lição de integridade que carrega da herança paterna. “Nunca levei uma surra do meu pai. Mas quando ele dava um grito…”

A rédea curta foi seu norte durante a convivência entre pai e filho. Apesar do rigor, o empresário sempre reconheceu a educação humanizada do pai. Seus amigos eram os filhos dos funcionários da usina, com quem brincava de igual para igual, sem tratamento especial. “Na minha educação, eu tive o privilégio de não me constranger em almoçar numa casa muito pobre e almoçar num lugar muito rico. Não me sinto intimidado nem por um nem pelo outro.”

A falta de privilégio em ser o filho do dono também era aplicada na empresa. Tanto é que Jorge começou a trabalhar no grupo aos 18 anos, como auxiliar no departamento de compras. E enquanto estudava, foi para o departamento financeiro.

Às vésperas de concluir o curso de química industrial, na Universidade Católica de Pernambuco, tomou uma decisão que se arrepende até hoje: abandonou o curso. Uma atitude que justifica com a imaturidade dos 22 anos. E ainda para completar, recém-casado. “Trabalhava durante o dia todo e estudava à noite. Então, à noite, com mulher nova em casa, aí não dava vontade de sair . E recém-casado, me deu o desânimo da faculdade.”

A decisão teve um peso fundamental na sua vida. Ao abandonar o curso, o pai foi categórico ao convocá-lo para tocar a usina morando na Petribú. Passou a residir lá, com a mulher. A rotina não era fácil. Acordava às 5h, todos dias.

Ia para o campo para ver a parte agrícola. Voltava para casa, tomava banho, café e seguia para o escritório. Fazia a pausa do almoço e retornava para os trabalhos administrativos. Tinha dias que ainda voltava ao escritório após o jantar. “Na época, existia uma norma na empresa em que eu só folgava a cada quinze dias. Um domingo a cada 15 dias.”

Voltar a morar na usina o aproximou ainda mais do pai, que por ser muito exigente, sempre o motivou a aprender mais. “Quando ele procurava alguma coisa e eu não sabia, eu procurava me esforçar muito naquilo para não ser reclamado novamente. Isso me deu muita experiência.

Hoje eu tenho um conhecimento geral de usina muito grande. Eu fiquei responsável pela usina direto e em 1995 nos compramos a Usina São José, que foi quando ele me nomeou presidente da empresa. Eu tinha o comando já há alguns anos.”

Mas aos 81 anos, o pai Paulo teve o diagnóstico de Alzheimer. “Foi o pior fato da minha vida. Isso me trouxe um pânico. Uma perda do meu pai a partir desse dia.” Foram oito anos doente. Já no final deste período, os irmãos acharam melhor a partilha dos bens.

Como presidente do grupo, levou à risca o pedido do pai em ser justo e, principalmente, usar o poder da melhor maneira administrativa possível. Entre os oito filhos surgiram dois grupos, com quatro irmãos cada. Uma parte ficou à frente da Usina São José e o outro grupo, capitaneado por Jorge, conduziu a Petribú.

Hoje, apenas Jorge e uma irmã são sócios da usina. E ele já prepara sua sucessão. E não será para nenhum dos três filhos. Estes trilharam caminhos à margem do histórico familiar açucareiro. A sobrinha, Daniela, é a responsável por tocar o negócio. Cheio de orgulho, emenda: “É a primeira mulher responsável por usina no Nordeste.”

O açúcar sempre correu nas veias do pernambucano. Já teve usinas em São Paulo, que foram vendidas com o encolhimento do setor. Hoje concentra seus esforços na Petribú, na esperança de superar os reveses que o segmento vem passando nos últimos anos.

Com um olhar treinado em pensar à frente, além da cana-de-açúcar, vem plantando eucalipto para servir de biomassa para a produção energética durante a entressafra da cana. Uma inovação no estado.

Claro que tem esperança em tempos melhores tanto para o setor quanto para o país, mas só vê um caminho para a nação, que passa pela educação de qualidade. “Eu tenho esperança um dia que nós possamos ter um país desenvolvido. Porque o Brasil cresce, mas não desenvolve. Desenvolvido é onde se respeita as leis, onde se trabalha.

Onde tem direito igual qualquer que seja ele. E só se muda isso com educação.” Enquanto espera novos tempos, ele trabalha e usufrui da companhia da família, amigos, e principalmente dos netos.

Fonte: (Diário de Pernambuco)

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