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Bagaço de cana pode ganhar valor substituindo areia na construção civil

O reaproveitamento das cinzas geradas com a queima de bagaço de cana na produção de concreto no setor da construção civil poderá transformar o resíduo em mais um subproduto da cana, agregando resultados adicionais ao fluxo de caixa das usinas. A avaliação é do diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, diante das recentes pesquisas científicas focadas na diversificação do uso do bagaço.

A técnica para o uso das cinzas na produção de concreto, desenvolvida pelo pesquisador e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Almir Sales, vem sendo estudada há quatro anos. “Atualmente as cinzas são utilizadas como fertilizante nas lavouras, mas não há nada comprovado sobre sua eficiência neste sentido, é apenas uma maneira de descartar o resíduo. Portanto, se a viabilidade comercial for comprovada, será uma solução prática e com muitos benefício s para o meio ambiente, além do fator econômico,” afirma Rodrigues.

Para Sales, a nova técnica é mais uma alternativa para a disposição dos resíduos finais da cadeia. “As cinzas não serão depositadas nas lavouras. Além disso, vai sobrar matéria-prima para outro setor, o que é importante do ponto de vista econômico,” explica.

O estudo do grupo coordenado por Sales surgiu da necessidade de buscar novos materiais para substituir os chamados “agregados naturais” do concreto, normalmente a areia – retirada dos rios – e a pedra britada, ou seja, os pequenos fragmentos de pedra provenientes da ação de uma britadeira. A cinza gerada pela queima do bagaço de cana foi escolhida como alternativa viável principalmente pela grande quantidade produzida. O volume elevado é um dos requisitos básicos para um resíduo ser considerado como alternativa para a areia, já que ela é muito utilizada no dia-a-dia.

Resistência e durabilidade

De acordo com o pesquisador da UFSCAR, os estudos com as cinzas de bagaço ainda estão em fase inicial. O grupo está avaliando os parâmetros de durabilidade, o que ainda deve levar algum tempo. No entanto, a pesquisa já revelou que o concreto feito com cinza aumenta de 15% a 17% a resistência do material.

Atualmente, de 100 a 120 milhões de toneladas de areia de rio são consumidas anualmente no Brasil. Em contrapartida, são produzidas cerca de quatro milhões de toneladas de cinza a partir do bagaço da cana. Portanto, do volume total, a cinza representaria 4% da areia. “Isto significa que em 1 m³ de concreto, de acordo com nossas pesquisas, a cinza pode substituir até 50% da areia,” complementa o pesquisador.

Viabilidade comercial

A pesquisa do grupo da UFSCAR é direcionada principalmente para as regiões onde existe bastante produção de açúcar e etanol e, consequentemente, grande queima de bagaço e cinza residual. “A cinza não é produzida, por exemplo, na Amazônia, então não faz sentido transportá- la daqui para substituir a areia utilizada no concreto fabricado por lá,” afirma Sales.

Para ele, em um primeiro momento a aplicação do novo produto será destinada à infraestrutura urbana, como calçadas e sarjetas. “Estes elementos são assimilados mais facilmente pela sociedade. Ao substituir a areia, que já vem sendo utilizada há mais de 80, 100 anos, por um novo material alternativo é necessário um processo de validação para proteger o consumidor. Por isso primeiro propomos que o uso inicial não seja na habitação,” ressalta.

Estudos recentes

Em dezembro de 2010 a revista Exame noticiou uma pesquisa semelhante, mas que utiliza também o bagaço da cana-de-açúcar além das cinzas. Chamado de fibrocimento, o produto é resultado de estudos do pesquisador Ronaldo Soares Teixeira, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), que substituiu alguns dos componentes usuais do concreto – geralmente composto por água, polpa celulósica e fibra sintética – pelos resíduos naturais da moagem de cana. De acordo com a reportagem, Teixeira estima que, de cada tonelada de cana-de-açúcar processada, 260 quilos são transformados em bagaço.

UNICA – União da Indústria de Cana-de-açúcar.

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