JornalCana

Ateando fogo nos preconceitos

Felizmente, a produção sucroalcooleira está crescendo, favorecendo a economia brasileira na balança comercial, e contribuindo para aliviar o triste problema do desemprego, realidade que hoje aflige milhões de brasileiros. O barril de petróleo, que hoje custa mais de US$ 40,00, deverá chegar a US$ 50,00 em 2010, e dentro de 15 anos pode chegar a US$ 100,00! (fonte: JornalCana, maio de 2004). O motivo disso é bastante claro: como se não bastassem as guerras que flagelam os maiores produtores de petróleo do mundo, todos sabem que o petróleo é finito, e pela lei da oferta e demanda, todo produto torna-se tanto mais caro quanto mais escasso. Pelo exposto acima visualiza-se a magnitude da importância dos combustíveis alternativos, não só para o Brasil, mas para todo o Mundo.

As máquinas colhedoras de cana disponíveis hoje no mercado são incapazes de colher em áreas com declividade maior do que 12 %, mas já existem pesquisadores trabalhando no desenvolvimento de máquina capaz de colher até mesmo em tais lugares! Quem se irrita com as queimadas deve, portanto, ter um pouco mais de paciência, pois a tendência natural do mercado, ainda que não houvesse nenhuma pressão da sociedade nem do governo, é substituir a mão-de-obra humana por colheita mecânica, como já aconteceu em outras culturas, como soja e trigo, e está acontecendo em café, algodão e cana. A substituição, apesar de seu potencial de causar tragédia social, acaba ocorrendo porque colheita mecânica é mais lucrativa ao produtor (se assim não fosse, a soja seria colhida manualmente até hoje). Esquecei a hipótese de colher cana crua manualmente, isso é inviável para as usinas e fornecedores (financeiramente), e ainda mais inviável para os cortadores (insalubridade e perigo).

Em nosso país, onde se busca tão avidamente soluções para o desemprego, a diminuição gradativa da oferta de vagas para cortadores é uma dura realidade com a qual teremos que conviver nos próximos anos. Sendo gradativa, já é difícil prover solução, a fim de que os trabalhadores dispensados consigam encontrar outro serviço. Se for brusca, será impossível. Só na região de Piracicaba, existem cerca de 45.000 pessoas trabalhando no corte da cana. Já imaginou todo esse povo desempregado de uma hora para outra? Podem até ser subempregados, mas muitíssimo pior seria se fossem desempregados, ou quiçá moradores de rua expostos a levar paulada na cabeça. Antes de criticar as queimadas, coloque-se a mão na consciência para pensar nisso, mas seriamente, e não olhando só o próprio interesse. Sendo a substituição da mão-de-obra um mal inevitável, é necessário que seja gradativa, e com certeza será, principalmente se a sociedade e o governo, seguindo mais o bom senso do que as críticas apaixonadas e infundadas de alguns, banirem definitivamente o péssimo costume de pressionar. Primeiro é necessário que a máquina seja desenvolvida, testada e colocada no mercado, depois será adquirida gradativamente, à medida em que as usinas tiverem dinheiro em caixa disponível para um tal investimento (cada colhedora custa algumas centenas de milhares de dólares!). Já os fornecedores precisam de tempo para se organizar em cooperativas, pois individualmente não têm escala que viabilize a aquisição de uma máquina como essas. Portanto, para minimizar o impacto social iminente, é necessário: primeiro, banir essa pressão irracional por algo que já está em andamento por si só; segundo, política séria de geração de empregos e qualificação dos profissionais.

As referidas pressões devem-se a “pretexto baseado em suposições, segundo as quais o “carvãozinho” da cana tem potencial cancerígeno e provoca doenças respiratórias. São suposições que não se sustentam e que já foram largamente desqualificadas por estudos do Núcleo de Monitoramento Ambiental da Embrapa e por renomados especialistas em toxicologia e saúde pública. Na verdade, trata-se de argumentos que escondem uma questão ideológica ligada ao uso da terra e ao tipo de atividade agrícola a ser desenvolvida no País.” (JornalCana, julho de 2002).

Quanto ao ambiente, as alterações climáticas recentes, das quais tanto se fala, são conseqüência do incremento do efeito estufa, que por sua vez resulta do aumento no teor de CO2 na atmosfera, causado pela queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão mineral). Neste sentido, as usinas, e mais ainda as destilarias autônomas, são verdadeiras unidades despoluidoras, porque o balanço de carbono do álcool, em todo o seu ciclo de produção e utilização, é sempre favorável, ao contrário dos derivados de petróleo. Isso independe da palha ser queimada ou não, pois todo o carbono emitido veio da própria atmosfera através da fotossíntese, e nem todo o carbono retirado da atmosfera pela cana retorna a ela, pois resta carbono não queimado nas raízes de cana, torta de filtro, vinhaça e sobras de bagaço. Assim, o uso do álcool contribui para redução do teor de CO2 atmosférico, atenuando o efeito das emissões realizadas pelos outros combustíveis. Isso abre para o Brasil a perspectiva de vender créditos de carbono, de acordo com o que estabelece o Protocolo de Kyoto.

Nilo Gustavo Souza Martins e José Rubens Almeida Leme Filho

Engenheiros Agrônomos, pós-graduandos na ESALQ/USP

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