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Apoio de usinas assegura sobrevivência de programas

A pesquisa de variedades não pára. E, isto é possível, entre outros fatores, devido ao pagamento de royalties pelo uso de variedades. A Copersucar, por exemplo, que cobra, anualmente, R$ 10,00 por hectare arrecadou, no ano passado R$ 1,5 milhão por conta dos contratos de permissão de uso. Mais de 170 usinas já fizeram esse acordo – que cumpre legislação específica sobre propriedade intelectual – e a adesão deve aumentar significativamente nos próximos anos. A UFSCar, que abrigava o Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar — Planalsucar do extinto do Instituto do Açúcar e do Álcool — IAA), lançando as primeiras variedades RBs em 1972, iniciou um novo projeto – que utiliza, também, a cobrança de royalties – com o apoio de empresas do setor sucroalcooleiro. “Começamos com cinco e em 2003, chegamos a ter a participação de 116 usinas”, relata o pesquisador Antônio Gheller. Dessa forma, mesmo com a extinção do Planalsucar durante o governo Collor, a pesquisa de melhoramento genético na Universidade – que ficou durante um ano inoperante – sobreviveu.

O programa da UFSCar é responsável, por exemplo, pelo desenvolvimento da variedade RB72454 – a mais cultivada no País conforme o Anuário da Cana 2002/03, que se destaca pela sua boa adaptação a ambientes de baixo potencial de produção, principalmente, os de solos de textura arenosa. Além disso, é excelente opção como cana de ano, tem resposta consistente a maturadores e alta produtividade agrícola e industrial. Entre as variedades recentes, outras opções são a RB867515 e a RB928064, que apresentam ótima brotação das socas. Para o início de safra, o pesquisador Antônio Gheller cita, entre as alternativas recomendáveis, as variedades RB 835486, RB855156, RB855453, RB835054. A UFSCar já tem pronto para lançamento três variedades da série 92, além da RB855046.

O Instituto Agronômico de Campinas, que foi pioneiro na área de melhoramento genético da cana, chegou a ter 20% de variedades IAC plantadas no Estado e reduziu as suas atividades nos anos 70 e 80 por falta de recursos, vive, agora, um novo e promissor momento. A intensificação das atividades, nessa área, ocorreu com o lançamento do Programa Cana IAC, no início da década de 90, que deu origem a um novo conceito: o desenvolvimento de tecnologias regionais. Para isto, criou o Grupo Fitotécnico da Cana-de-Açúcar, que reúne pesquisadores de diversas universidades e representantes de usinas dos estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná. Além de socializar o conhecimento e fazer a troca de experiências, o Grupo discute temas, quase permanentes, como manejo varietal e ambientes de produção.

“Importantes variedades foram adotadas por usinas a partir de discussões do Grupo de Fitotecnia”, observa Marcos Landell, diretor do Centro Apta Cana/ IAC. Segundo ele, os debates, que ocorrem nessas reuniões, acabam dando origem a um levantamento das demandas do setor, que direcionam as pesquisas do Agronômico. Na área de melhoramento genético, Landell informa que o IAC lançará em 2.003 quatro novas variedades, que apresentam alto teor de sacarose e, devido às suas características gerais, darão importante contribuição para o setor. Outros ensaios, que estão sendo realizados em 210 hectares de áreas de usinas, possibilitarão, também o desenvolvimento de novas variedades IAC. Para Landell, entre as variedades recentes lançadas pelo Agronômico, as mais importantes são a rústica IAC873396 e a precoce IAC862210, além da cana forrageira IAC862480, que tem dado importante contribuição para a pecuária brasileira.

Vitrine tecnológica abre novas perspectivas

A “garimpagem” de equipamentos e implementos agrícolas, que incorporam novas tecnologias, faz parte da agenda dos profissionais do setor interessados na obtenção de uma produtividade mais elevada nos canaviais. Um compromisso obrigatório, nessa jornada, é a Agrishow 2003 – Feira de Tecnologia Agrícola. Considerada uma das três maiores do mundo, essa feira apresentou muitas novidades para o setor sucroalcooleiro, entre as quais, o Cultivador Novo São Francisco, da DMB Máquinas e Implementos Agrícolas. Esse equipamento ajuda a “combater” a compactação do solo, um dos maiores inimigos da fertilidade e, por conseqüência, da produtividade.

O cultivador da DMB, utilizado após a colheita, é dotado de apenas uma haste, que se bifurca quando é iniciado processo de subsolagem. Durante a operação, ele chega a atingir uma profundidade de até 38 centímetros. “O Novo São Francisco trabalha mais próximo à linha, podendo ser utilizado em cana crua ou queimada”, afirma Auro Pardinho, gerente de marketing da DMB. No ano passado, a empresa lançou na Agrishow, um conjunto sulcador e adubador, que tornou-se um aliado de diversas usinas, que buscam a otimização da produção agrícola. Durante a sulcação, esse equipamento – que usa pneu de alta flutuação – faz a distribuição da torta de filtro durante a mesma operação, o que contribui para a redução da compactação do solo.

O gerente agrícola da Usina Passa Tempo, de Rio Brilhante (MS), Admar Strini Junior, descobriu esse conjunto durante a sua “garimpagem” na Agrishow 2002, e passou a utilizá-lo no plantio de inverno, de maio a setembro. “Anteriormente, não fazíamos plantio nessa época, porque a elevação da temperatura do solo era bem acentuada. O equipamento atendeu a expectativa e realizamos o cultivo com pleno êxito”, comemora.

Na Agrishow, o visitante pode conhecer também o sistema de fertirrigação por gotejamento subterrâneo da Nefatim Brasil, que tem sede em Ribeirão Preto (SP). Apesar do custo da irrigação na cana-de-açúcar provocar resistências e reações negativas em profissionais e empresários de usinas e destilarias, o gerente de mercado para o setor sucroalcooleiro da empresa, Flávio Luís de Aguiar, garante que essa tecnologia tem viabilidade econômica. Segundo ele, o custo – que varia entre 1.200 a 1.400 dólares por hectare -, pode ser pago na comercialização de uma colheita de açúcar que tem um aumento de produção entre 12 a 14 toneladas a mais por hectare em apenas um ano. “A produtividade é significativamente alterada, ficando entre 120 e 140 toneladas, em média, por 10 a 12 cortes. Em São Paulo, existe experimento, iniciado em 1.996, que obteve média de 152 toneladas por hectare para seis cortes. No Nordeste e em Goiás já foi possível colher 226 e 194 toneladas por hectare, respectivamente, em 12 meses”, ressalta.

Inventada pela Nefatim em Israel, em 1.964, a tecnologia de irrigação por gotejamento otimiza e racionaliza o uso de água, além de fornecer fertilizantes, de maneira parcelada, ao longo do ciclo. “Como não se molha folhas e ramos, somente as raízes, provoca uma redução da propagação de pragas e doenças, o que diminui a necessidade de pulverizações com pesticidas”, explica o gerente de mercado da empresa. Esse sistema já é empregado em 2.300 hectares de terra no Brasil, sendo 1.800 implantados pela Nefatim em 26 usinas e destilarias. No mundo, a irrigação por gotejamento subterrâneo é utilizada em 170 mil hectares de áreas com cana-de-açúcar.

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