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Aéreas fazem manobra para economizar com combustível

Aéreas fazem manobra para economizar com combustível

As empresas aéreas que voam no Brasil estão diante de uma chance que pleitearam por mais de uma década: tramita no Senado um projeto de resolução que pretende baixar de 25% para 12% em todos os Estados o teto do ICMS do querosene de avião.

Se for aprovado, vai reduzir uma prática característica na aviação brasileira, uma espécie de guerra fiscal aérea que força as empresas do setor a queimar combustível na busca por querosene barato.

Em um exemplo, uma aeronave que sai de Brasília (onde o ICMS é 12%) para São Paulo (que cobra 25%) já decola com o tanque cheio para retornar a Brasília, evitando assim o abastecimento no ponto de tributo mais caro.

A economia, porém, não é completa, porque o avião que viaja com o tanque mais pesado precisa consumir mais combustível. O ideal seria abastecer só o necessário em cada parada, liberando o peso adicional para levar outro tipo de carga.

O tributo incide apenas sobre os voos domésticos, ou seja, as companhias aéreas estão isentas de pagá-lo nas viagens internacionais.

“O mesmo combustível que abastece em Guarulhos um avião que vem de Miami sai 25% mais caro para o que vem de Fortaleza”, afirma Eduardo Sanovicz, presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas).

É por esse mesmo motivo, segundo ele, que um bilhete para Buenos Aires pode custar menos para o passageiro de São Paulo do que um para Aracaju, embora as distâncias sejam semelhantes.

Alto e Baixos

A equiparação do teto do ICMS para 12% em todo o país diminuiria o poder de arrecadação de alguns Estados em um momento delicado para suas finanças, mas, segundo as companhias aéreas, teria como consequência o benefício dos passageiros.

O presidente da Abear sugere que isso permitiria uma ampliação de 50 a 70 novos voos ofertados diariamente.

“Se o custo do sistema cair, como a concorrência é grande, as empresas vão baixar preço. Isso é garantido, porque na aviação não há estoque. Se o voo sai vazio, a empresa perde”, diz Sanovicz.

Para reagir à queda na demanda provocada pela recessão brasileira, desde o ano passado, as companhias aéreas reduziram sua malha voada e o número de assentos. “A queda no ICMS voltaria a viabilizar muitos desses voos”, afirma Sanovicz.

O presidente da Azul, Antonoaldo Neves, conta que os altos preços levaram a companhia a deixar de voar para Araraquara (SP).

Obstáculo

A fixação do teto do ICMS em 12% é inócua em muitos Estados. Roraima, Distrito Federal e Rio Grande do Norte, por exemplo, já adotam teto de 12%. No Rio, o imposto é de 13%.

Estados como Pará, Santa Catarina e Maranhão, embora estabeleçam 17% de alíquota, oferecem regime especiais que permitem baixar a 7% ou 4% se as empresas ampliarem a oferta de voos que chegam a seus aeroportos.

O real obstáculo para as companhias é São Paulo, destino que concentra cerca de 35% da aviação e tem o maior impacto sobre as finanças das aéreas. Renato Villela, secretário da Fazenda do Estado, tem afirmado que não quer abrir mão da arrecadação.

O preço do querosene corresponde a cerca de 40% dos gastos das empresas aéreas brasileiras, segundo Alberto Fajerman, diretor da Gol. A média mundial é 28%, de acordo com a Abear.

“O preço aqui é desproporcionalmente maior em relação a qualquer mercado relevante, inclusive na América Latina”, diz Claudia Sender, presidente da TAM.

O litro do combustível em localidades como Cuiabá, Recife e Manaus se aproxima dos preços cobrados em Luanda e Harare, na África.

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