Mercado

Açúcar resiste bem à turbulência do mercado

O mercado de açúcar resistiu bem à turbulência dos mercados de commodities e financeiro. Mais ainda assim, fechou a semana com perdas entre 10 e 13 dólares por tonelada, com pressão ainda maior no outubro – queda de 16 dólares por tonelada – em função do desinteresse no mercado físico. O spread outubro/março, de quase 200 pontos, demonstra que mesmo carregando o açúcar físico por 8 meses (até 15 de maio) ainda sobraria lucro no bolso do comprador do spread. O problema é a falta de lugar para armazenar esse açúcar a baixo custo, o que poderia inviabilizar a operação.

A semana que passou trouxe excelentes oportunidades de fixação do dólar porque dentro do tripé preço-prêmio-câmbio era o que estava completamente fora da curva. O aproveitamento desse descolamento era quase que obrigatório. Quem não aproveitou vai ter que chorar na cama que é um lugar quentinho.

A crise global e a fuga de capital para qualidade, ou seja, a aversão repentina ao risco depois da ressaca restringe o crédito e afeta o fluxo de caixa das tradings que serão muito parcimoniosas nos volumes a serem negociados com as usinas [trabalhando da mão para a boca], no limite de crédito concedido às mesmas e na permissão de fixação muito antes do embarque. Em outras palavras, as usinas terão limitado acesso à dinheiro novo, dificuldade na renovação dos atuais limites e uma preocupante restrição de fixação de preços podendo perder oportunidade de bons retornos. É hora de as usinas prepararem o balancete auditado e começar a pensar seriamente em abrir uma conta de futuros com seu corretor de confiança. A perda de oportunidades de obter uma boa fixação que remunere condizentemente o acionista é bem maior do que o risco das horripilantes chamadas de margem num mercado ascendente, que sangram o fluxo de caixa do dia-a-dia. Não adianta, tem que fazer conta para saber os riscos.

O cenário continua positivo para os preços do açúcar no mercado internacional para os próximos dois anos. É muito improvável ver o mercado atingir níveis inferiores a 12 centavos de dólar por libra-peso (quando o custo é bem acima disso) para as telas de 2009 e 2010 e lá permanecer por muito tempo, ressalvando aqui eventuais problemas de pânico. Outro fato é que se olharmos a performance de algumas commodities nos últimos 24 meses tivemos o milho subindo mais de 135%, a soja que subiu 110%, o petróleo que subiu 45%, o gás natural 30% e o trigo que subiu mais de 75% e o açúcar que não subiu nada em dois anos. Portanto, se existe ainda alguma gordura a ser queimada pelos fundos de hedge/índice, certamente essa gordura não virá do açúcar. Outra coisa é que os retornos para as culturas de soja e trigo ainda são superiores aos do açúcar, o que desestimula a Índia a voltar a carga e pressionar o mercado de açúcar. Isso não vai ocorrer no curto prazo, assim não vamos ter pressão daquela parte do planeta.

Dizem que a intimidade desencoraja a imparcialidade. Esse pode ser um motivo porque tantas empresas tenham sucumbido nessa crise global. Onde estão os relatórios de risco dessas companhias? Onde estão seus gestores de risco? Os relatórios do Value-at-Risk, que apontam com acurácia de 95% a perda máxima de um portfólio? Os complexos sistemas de controle de exposições da carteira de investimento? Tudo conversa fiada pra boi dormir. Tanta sofisticação que não serve para nada se os responsáveis pela gestão do portfólio contarem com o beneplácito dos gestores de risco. É certo que muitas vezes o responsável pelo risco da empresa é colocado numa calça justa de aprovar ou desaprovar uma operação em cima da hora de um projeto que tem sido desenvolvido há longo tempo, do qual muitas vezes ele é parte interessada direta ou indiretamente, quando seu bônus depende de aprovação da operação. Volatilidade, ganância e pânico são ingred ientes explosivos em qualquer mercado. Quanto mais desproporcional for a dosagem de qualquer um deles, maior vai ser o índice de loucura dos participantes. Uma verdadeira selva. No fim, todo esse jogo de cena dos gestores tem a mesma utilidade daquela recomendação feita pelas comissárias de bordo antes da decolagem. Alguém conhece quem tenha sobrevivido à queda de um avião na água?

A expressiva queda das ações das empresas do setor listadas em bolsa indica que alguma coisa está faltando nessa equação. Está mais barato comprar ações dessas empresas do que fazer um greenfield. Mais surpreendente ainda é essa queda dada as circunstâncias favoráveis do mercado para o próximo ano com o retorno da lucratividade.

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