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A logística, o caos e as formigas

A complexidade e o caos são, freqüentemente, confundidos em definições versando sobre o moderno mundo dos negócios; um mundo de regras difusas e de lógica às vezes mutantes. Mas embora possa ser bem difícil de ser entendido e explicado por padrões de fácil assimilação, o mundo corporativo não é nem um pouco caótico.

Segundo o dicionário Aurélio (que replica o senso comum), “caos” significa: Grande confusão ou desordem. Ocorre que um enxame de abelha – ou um formigueiro atraído por um piquenique – pode parecer muito caótico mas, na verdade, apenas faz parte de um sistema adaptativo complexo e – tal como o atual mundo dos negócios – muito difícil de explicar. Em ambos os casos, há sim complexidade aos extremos, mas há uma ordem difusa e complexa regendo cada um dos movimentos.

Uma boa forma de comparar a complexidade aparentemente caótica, tão facilmente encontrada na natureza, com estratégias do mundo corporativo é analisar o exemplo de algumas empresas que introduzem o “aparente caos” em suas operações como uma estratégia de sucesso. Vejamos o caso da Cemex.

A Cemex é a terceira maior empresa de cimento do planeta e tem na distribuição de cimento fresco um de seus maiores desafios.

Isto porque, como se sabe, os projetos de construção nunca acontecem de forma absolutamente matemática conforme o cronograma. Mas a argamassa de cimento só pode ser descarregada no momento exato do seu uso.

Neste caso, manter uma agenda rigorosa de entrega do cimento significaria, em muitos casos, um longo tempo ocioso de espera para o descarregamento do produto em seu ponto de destino ou; em outras palavras; em grandes perdas com mão de obra e, principalmente com argamassa endurecida e caminhões betoneiras necessitando de reparos.

Para quebrar o círculo vicioso, a Cemex imitou as formigas: imaginou um tipo de logística em que se faz o reconhecimento de um território, o seu cuidadoso mapeamento e a distribuição de funções específicas para grupo e indivíduos de “soldados”, que podem decidir, em cima da hora, em que ponto do território agir.

Com isto, a Cemex pode prometer entregar o cimento onde e quando o cliente quiser em até 2 horas.

Coloca-se precisamente aí o diferencial estratégico. A Cemex não vende apenas cimento mas sim, esta promessa.

Onde está o caos e onde está a complexidade?

Tal como faz o exército de formigas, a Cemex encaminha sua frota de cimento, a cada manhã, e a despacha sem destino determinado. Sim, isto parece mesmo um caos.

Mas o segredo está em como as betoneiras rodam. Assim como formigas explorando um território, eles são guiados ao destino por um punhado muito simples de regras.

Formigas usam mensagens químicas (chamadas feromônios) para cumprir suas instruções; a Cemex utiliza algoritmos baseados em greed (voracidade; ou “entregar o máximo de cimento, o mais rápido possível, para o maior número de clientes”) e repulsion (repulsão, aversão – “renegar esforços em duplicidade e manter cada caminhão distante um do outro).

De uma forma notável, a este modelo aparentemente “sem controle” foi a solução encontrada justamente para controlar a complexidade de fatores envolvidas nesta demanda: a de fazer centenas de entregas simultâneas de cimento molhado, sem que se possa obedecer a um cronograma e sem que a argamassa resseque nos caminhões betoneira.

Aprendendo com as formigas, a Cemex já contabiliza um retorno de US$ 380 milhões sobre os investimentos no modelo e tem estado à frente da concorrência nos oito países em que opera (incluindo as regiões oeste e sudoeste dos Estados Unidos).

E não se trata de um exemplo único. Na verdade, em 1998 a British Telecom introduziu um sistema similar para despachar sua frota de serviços de 80 mil veículos de manutenção. Economizou com isto 250 milhões de libras, só no primeiro ano.

Até mesmo o exército americano aplicou o modelo dos feromônios das formigas para direcionar suas tropas de cobertura de sobrevivência terrestre na Bósnia e na Sérvia (e para redirecionar sua tropas quando uma era abatida). A eficiência de cobertura aumentou de 60% (quando se usavam o modelo de otimização baseado em mainframe) para 87% (ao alimentar um PC de guerra com os algoritmos do modelo de formigas).

O que podemos constatar é que, mais uma vez, a natureza com sua imensa e incalculável complexidade, serve de inspiração para muita coisa, inclusive como fonte para estratégias gerenciais.

Porém, não podemos deixar de lembrar que o veículo que nos permite cada vez mais ir além, abrindo nossas mentes para a concepção de novas e criativas idéias aplicáveis aos negócios é a tecnologia. Os exemplos acima somente concretizaram-se devido ao auxílio da tecnologia e, sem ela, ficariam apenas nas cabeças de alguns filósofos corporativos ou pelo menos, sua complexidade inibiria sua tentativa.

Hoje, sistemas integrados de telecomunicações, GPS (Global Positioning System) e softwares de roteirizacão e transporte tornam idéias como a da Cemex altamente viáveis.

É preciso, portanto, encarar e dominar as tecnologias de observação e de aplicação para não ficar apenas na visão contemplativa das novas possibilidades de compreensão e de adaptação no mundo dos negócios. Olhai os lírios do campo, mas olhai também para as formigas e suas estratégias bem sucedidas. Hoje existe tecnologia barata e disponível para se apropriar destas estratégias.

Aceitar estas tecnologias sem medo, antes que seu concorrente o faça. Pois, a primeira regra da vida é também a primeira regra dos negócios: Adaptar-se ou morrer.

Frederico Saad de Marchi é executivo de Marketing da Baan – fmarchi@baan.com.

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