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A agropecuária vai bem, obrigado! Até quando?!

Até quando o Brasil vai depender do sucesso de nossa agropecuária para seguir sendo um país forte? Até quando vamos suportar manter nossas riquezas à base da venda de commodities? Até quando vamos precisar contar apenas com a competência de nossos trabalhadores e gestores do campo, que se desdobram para concorrer com países desenvolvidos que dispõem de técnicas e equipamentos praticamente impensáveis para nossa realidade?

Pois é, mais uma vez a agropecuária foi o setor que segurou nossa economia, evitando que desabasse. No primeiro trimestre de 2015, a soma das riquezas do país, também conhecida como PIB (Produto Interno Bruto), recuou 0,2% em relação aos três meses imediatamente anteriores. Houve queda em todos os segmentos pesquisados (indústria, serviços, investimentos, consumo…), exceto na agropecuária, que cresceu 4,7% naquele período.

Todos já falamos muito sobre o poder dos agronegócios. O problema é que persistimos, ano a ano, dependendo mais da competência e da criatividade dos profissionais do campo, das boas condições ambientais, da disponibilidade de terra para plantar e da persistência do brasileiro em enfrentar todas as mazelas infraestruturais do país para escoarmos nossa produção do que de um crescimento baseado em planejamento equilibrado, equipamentos e apoio decente e condições adequadas para o sucesso do setor.

Além disso, assistimos nossa rica produção ser simplesmente embarcada em sua maior parte in natura, sem beneficiamentos ou processamentos que poderiam agregar valor aos produtos e render mais divisas ao Brasil. Mantemos a mentalidade tacanha de que o dinheiro obtido no comércio externo de nossos produtos agropecuários é suficiente para as necessidades do país. Não é, podem ter certeza!

E as dificuldades pelas quais o Brasil passa acabam como desculpas para o amontoado de problemas que afeta o campo. Com um atraso enorme, o governo anunciou há pouco os recursos a serem destinados para financiar o Plano de Safra 2015/2016. Se por um lado aumentaram em 20% a quantidade de recursos, para R$ 187 bilhões destinados ao crédito do agricultor, por outro entregaram mais um “presente de grego”, na forma de juros muito mais altos do que os cobrados na safra anterior.

Assim vão vivendo nossos homens do campo e gestores dos agronegócios, dependendo muito mais de seus esforços pessoais para garantir essa riqueza tão pouco valorizada pelos governantes, mas que segue sendo o esteio a que todos recorrem nos momentos de dificuldades. Ao final, retomo os questionamentos: até quando o país vai seguir dependente de uma agropecuária que demanda – mas não consegue obter – melhores condições para se desenvolver e que tem de lamentar a perda de oportunidades de negócios para o país por embarcar para o exterior produtos praticamente in natura?

 

*José Osvaldo Bozzo (jbozzo@mjcconsultores.com.br) é consultor tributarista e sócio da MJC Consultores. Formado em Direito, iniciou carreira na PwC. Foi também sócio da BDO e da KPMG e professor de Planejamento Tributário na USP – MBA de Ribeirão Preto.

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