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Trânsito permanente define a vida dos cortadores de cana

Por mais de meio século, desde o momento em que grandes usinas sucroalcooleiras instalaram-se na região de Ribeirão Preto, assiste-se à vinda de milhares de trabalhadores, provenientes do norte de Minas Gerais e de várias regiões do Nordeste Do Maranhão, da região dos cocais, coberta pela exuberante floresta da palmeira babaçu, chegaram nos finais dos anos de 1990 os primeiros migrantes. De lá para cá, esse número vem aumentando gradativamente.

Mais de dois terços dos cortadores de cana do Estado de São Paulo são constituídos por trabalhadores que vêm dessas regiões. Os contratos de trabalho são por tempo determinado, ou seja, por safra, que pode durar em torno de dez ou 11 meses. Assim, ao serem dispensados quando chega o final do ano, eles voltam para seus lugares de origem para regressarem, em seguida, aos canaviais paulistas.

Esse vaivém de milhares de pessoas constitui o que denomino migração permanentemente temporária. Não estão nem lá nem cá.

Estão em trânsito. E é essa condição de transitoriedade permanente que define suas vidas. A história do jovem maranhense Fernando Santos Santiago, 18, é semelhante à de milhares de outros.

A região dos cocais vem sendo ocupada, nas últimas décadas, por grandes empresas para pecuária extensiva.

Assiste-se, assim, à derrubada de extensas áreas da floresta do babaçu, fonte de sobrevivência de milhares de camponeses que, até então, viviam da economia extrativista do coco e de pequenas plantações de arroz, mandioca e frutas.

Expulsos de suas terras, não raro por métodos violentos, esses camponeses vão para as “pontas-de-rua” (vilarejos) e, não tendo alternativa de trabalho, ingressam-se nas rotas migratórias para os canaviais do centro-sul do país, como estratégia para garantir a sobrevivência.

Ao trazer na bagagem o coco babaçu, Fernando traz um pouco do seu Maranhão que ficou para trás e, talvez, seja uma espécie de amuleto para lhe dar sorte no momento da seleção dos cortadores de cana que competem com as máquinas.

MARIA APARECIDA DE MORAES SILVA é professora da Unesp e da UFSCar

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