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Preços do etanol voltam a recuar nas usinas de São Paulo

2004-07-14 Etanol Alcool Destilaria Usina PedraDepois de esboçar valorização há algumas semanas puxada pela expectativa de forte quebra na safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul, o preço do etanol voltou a cair persistentemente nas usinas. Em 28 dias, a desvalorização do hidratado, que é usado diretamente nos veículos, foi de 5,1% na indústria em São Paulo, conforme o indicador Cepea/Esalq.

Apenas na última semana, a baixa chegou a 2,8%. Na remuneração das usinas, o hidratado chegou até a ficar atrás do açúcar bruto, que ontem foi beneficiado pela valorização do dólar e por alguma recuperação de suas cotações na bolsa de Nova York.

Além de uma demanda fraca, apesar dos preços nos postos mais convidativos, o etanol neste momento padece de estoques 1 bilhão de litros mais elevados que há um ano, segundo traders. Somando-se o hidratado e o anidro (usado na mistura com a gasolina), o volume total armazenado no Centro-Sul alcançou cerca de 9 bilhões de litros, ante 8 bilhões de um ano atrás.

A forte queda nos preços neste momento, segundo traders, se deve não somente ao fato de muitas usinas em dificuldades financeiras estarem liquidando seus estoques para pagar as contas. O que está acontecendo também é que usinas maiores e mais capitalizadas estão ficando sem capacidade de tancagem, uma vez que, além de volumes próprios, estão comprando o etanol a preços mais baixos no mercado, para vender na entressafra, quando se espera que os preços vão decolar.

No domingo, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) retomou sua campanha publicitária em tevês, rádios e internet para estimular o consumo de etanol pelo motorista. Em nota, a entidade, que representa as usinas do Centro-Sul, afirmou que, agora, o preço do etanol está mais vantajoso que o da gasolina ao consumidor em alguns Estados, mas que, mesmo assim, a demanda não reagiu como esperado.

“Isso reforça o nosso diagnóstico de que o contato direto com o público deve ser constante”, afirma a presidente da Unica, Elizabeth Farina. Quando foi lançada pela primeira vez, em novembro de 2012, a campanha, enquanto foi veiculada, alavancou em 10% as vendas do biocombustível no Estado de São Paulo.

Nesta safra 2014/15 – de maio até a primeira quinzena de setembro -, as vendas de etanol hidratado realizadas no mercado interno pelas usinas do Centro-Sul caíram 4,86%, a 5,864 bilhões, segundo a Unica.

Nos postos, o preço do etanol hidratado vem subindo nas últimas semanas na maior parte dos Estados, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP). Entre 21 e 27 deste mês, os preços médios na bomba subiram em 15 Estados. Em sete caíram e em cinco ficaram estáveis.

Em São Paulo, maior Estado consumidor de combustíveis do país, o preço médio do hidratado nos postos caiu 0,53%, a R$ 1,865 na última semana. Nesse Estado, abastecer com etanol está mais vantajoso do que com gasolina, pelo menos, desde maio. A paridade de preços entre os dois combustíveis ficou nesse período na casa dos 65% a 66%, com uma margem razoável, se for considerado que o uso do etanol é vantajoso quando seu preço equivale a menos de 70% do preço da gasolina.

Traders acreditam que, os atuais preços médios do etanol nos postos de São Paulo – de R$ 1,865 por litro – têm potencial para cair para um patamar entre R$ 1,77 e R$ 1,78 por litro, o que significaria uma paridade com a gasolina na casa dos 62%.

Na avaliação do diretor da trading de etanol Bioagência, Tarcilo Rodrigues, o consumidor final se acostumou com a paridade de 67%, presente no mercado praticamente desde abril, e, vai precisar, portanto, de um “solavanco” para reagir e substituir a gasolina pelo etanol.

Em relatório, o especialista da consultoria americana FCStone, Bruno Lima, explicou que o etanol hidratado está perdendo terreno até para o açúcar bruto, patinho feio do setor há alguns meses consecutivos. Conforme a consultoria, a alta dos preços em dólares do açúcar na bolsa de Nova York ocorrida no pregão de ontem veio acompanhada da desvalorização do real. “Com isso, a remuneração do hidratado passou a ficar 70 pontos abaixo da trazida pelo açúcar bruto”, segundo a FCStone.

Apesar do cenário aparentemente sombrio para o etanol, a consultoria FG Agro, de Ribeirão Preto, afirma que sua “leitura” do mercado é de que as distribuidoras estão “atrasadas” na formação dos estoques. “Por outro lado, até outubro as usinas devem atingir o seu limite físico de estocagem”.

“Se as distribuidoras aproveitarem este momento para recompor os estoques, a queda do preço na usina não deverá refletir em queda na mesma proporção no preço na bomba. Esperamos reajuste no preço da gasolina logo após a eleição. Ponderando esses aspectos, continuamos altistas para os preços do etanol para a entressafra”, disse Luiz Gustavo Correa, diretor da FG Agro.

(Fonte: Valor Econômico)

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