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Nem governo nem mercado vão ditar preço da gasolina

Em sua primeira entrevista após anunciar uma “dieta” drástica nos investimentos, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, 51, não descartou um reajuste no preço da gasolina neste ano. Mas não enxerga a necessidade de um aumento agora.

“Não dá para garantir que não haverá”, disse ele à Folha nesta quarta (1º).

O reajuste mais recente da Petrobras foi em novembro –3% na gasolina e 5% no diesel nas refinarias. Neste ano, houve aumento em razão da volta da cobrança de tributo.

Apesar de vitórias na condução da pior crise da petroleira brasileira, ainda pairam dúvidas sobre a imunidade da empresa em relação à interferência do Planalto contra reajustes, intervenção que afeta a situação financeira da companhia. “Não nos sujeitamos nem a um [mercado] nem a outro [governo].”

Criticado pela antecessora Graça Foster por não entender do setor de óleo e gás, Bendine devolve com provocação: “E você acha que o problema da Petrobras é de petróleo?”.

Ele prometeu não pôr à venda ativos do pré-sal e condenou mudanças no regime de partilha no momento. Uma solução intermediária, contudo, pode ser o caminho.


Folha – Como a Petrobras saiu do estado de euforia, com o pré-sal, para o de decepção?
Aldemir Bendine –
 Acho que o grande componente foi a reversão no mercado de petróleo. Tínhamos preços de barril acima de US$ 100. Mas o mercado despenca e, em 2014, o barril caía a menos de US$ 50 diante de excesso de oferta e da baixa demanda. Assim, não há o que segure.

Não foi também por incompetência? O balanço mostrou isso.
Difícil falar de passado. Não sou engenheiro de obra pronta. Temos um quadro de funcionários de grande excelência e operamos hoje uma das melhores reservas de petróleo do mundo, o pré-sal. Estamos nos reposicionando. Não vamos olhar para o retrovisor. Farei uma busca frenética por eficiência e redução de custos internos.

Dieta Ravenna [regime adotado por Dilma Rousseff] por lá?
[Risos]. Hoje não temos uma operação unificada de logística. Vamos cortar o efetivo da comunicação, a Folha noticiou, num primeiro momento, em cerca de 50% [hoje há mais de mil funcionários na área] e terceirizar atividades menos nobres.

A estrutura estava inchada?
Estava longe do adequado. Modelo de operação verticalizado e pesado. É preciso ficar mais leve, ter mais segurança na tomada de decisão.

Que mágica vão fazer para gerar caixa? Só vender ativos não parece suficiente.
Voltamos nossos investimentos para a exploração. Venderemos ativos que não fazem mais sentido. Vamos atrás de novos negócios.

A Petrobras admite ser sócia minoritária de projetos, como em termelétricas e álcool?
Dependendo do segmento, sim. Se eu tiver condição de aprendizado e desenvolvimento de novas tecnologias, posso ser minoritário. Mas, sem nada em troca, nenhum ganho, não temos interesse.

Vai vender quais ativos? BR Distribuidora será por IPO?
Não vou falar, esquece. Se abrir, deprecio o valor do ativo. E também não há um único modelo de alienação desses ativos. Por que tenho necessariamente de fazer um IPO? Por que não posso buscar um sócio estratégico? Não sei o que será feito. Mas tenho de surpreender o mercado, não posso ir a reboque dele.

Com os ativos já ventilados para venda, não se chega aos R$ 60 bilhões em cinco anos.
O mercado está precificando errado. Conhecemos nossos ativos. Aquilo ali não é futurologia. Não vamos trabalhar com expectativas que não podem ser atendidas.

E capitalizar a empresa?
Fora de cogitação.

A Petrobras tem um problema sério com dívidas tributárias. Uma bomba de R$ 40 bilhões nos próximos dois anos…
Vamos negociar para diminuir esse passivo com impostos, algumas dívidas a gente nem reconhece. Vamos buscar redução para evitar impactos ao caixa.

Como vai resolver o imbróglio da Sete Brasil? Se fosse hoje, autorizaria a associação [para produzir sondas de exploração do pré-sal]?
São cenários totalmente diferentes. O projeto, em si, é inteligente e benéfico para a empresa. Nós poderemos ter impacto se houver atrasos ainda mais consideráveis [para financiar a Sete].

Haverá venda de ativos do pré-sal?
Não. É nosso melhor ativo.

A geração de caixa está ruim. Haverá aumento da gasolina?
Não está ruim, está equilibrada. Muitos analistas têm uma forma simplista em relação a esse cálculo. Além disso, estamos num cenário de baixo consumo.

O sr. aprovou o balanço, apresentou um plano de negócios considerado realista. Mas ainda há dúvidas sobre a independência da Petrobras.
A empresa tem independência na política de preços e assim será. Seria mais fácil, neste momento de expectativa, promover aumento, mesmo sem base. Mas não vamos nos sujeitar nem a um [mercado] nem a outro [governo].

Por que acreditar na sua palavra?
Diante do que já foi realizado. Essa angústia é visível. Entretanto, está mais condicionada a ranços do passado do que à real situação agora.

Dá para garantir que não haverá aumento da gasolina neste ano?
Não. Não dá para garantir.

A Petrobras não tem dinheiro para ser operadora única do pré-sal.
É um modelo extremamente benéfico. Mas a situação de caixa traz uma realidade de difícil execução caso houvesse um leilão agora. Tenho convicção de que a União tem sensibilidade para não realizá-lo agora. Não seria positivo.

Dilma é contra a mudança. Já Lula defende alternativa de não obrigar, mas dar preferência à Petrobras. Com qual fica?
Pessoalmente, creio que é inoportuna a discussão sobre o modelo de concessão. Isso cria ainda mais insegurança. Mas [em caso de aprovação inevitável] poderia ser uma alternativa que preservaria o interesse do Estado [a proposta da preferência].

Sua antecessora Graça Foster disse nos bastidores que o sr. não entendia nada de petróleo.
Desconheço. Entretanto, você acha que o problema da Petrobras hoje é de petróleo?

Fonte: (Folha de S.Paulo)

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