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Ineficiência energética

No setor energético, 2012 não foi promissor. Os investimentos na geração e transmissão de eletricidade foram insuficientes, com maior intervenção estatal. Em decorrência, a capacidade de produção encontra-se abaixo do aumento da demanda e o racionamento poderá vir, logo.

Entre 2005 e 2011, 64 milhões de brasileiros ascenderam social e economicamente. É o equivalente à população da Itália. E o aumento de renda contribui para maior consumo energético. Em decorrência, especialistas advertem sobre nova crise de energia elétrica em meados desta década.

O atual nível dos reservatórios das hidroelétricas (70% da capacidade de produção de eletricidade) é o pior dos últimos 11 anos e só não perde para o período de racionamento. Consoante os meteorologistas, a previsão das chuvas está abaixo da média. Em 2000 não choveu o suficiente e veio o racionamento.

A fim de eliminar o deficit elétrico, o governo tem utilizado as 68 térmicas disponíveis, movidas a gás natural, óleo combustível ou carvão mineral, embora mais caras e poluentes. Mantê-las em atividade significa um dispêndio em torno de R$ 500 milhões mensais. Ironicamente, a nação que possui o maior potencial de biomassa e hidroeletricidade do universo vai depender, cada vez mais, dos combustíveis fósseis.

A diferença do custo das hidroelétricas em relação ao das térmicas será cobrada da conta de luz de todos os consumidores, em 2013. O atual esforço da administração federal para reduzir as tarifas é excelente intenção, considerando que a energia no Brasil é uma das mais caras do mundo, quando deveria ser uma das mais baratas, diante da abundância de recursos disponíveis para sua geração.

Num universo de 27 países, o Brasil tem a 24ª tarifa mais cara, o dobro da média das BRICS, por exemplo. Enquanto o mundo paga, em média, R$ 215 MWh, e os demais membros dos BRICS, R$ 140, a indústria brasileira paga R$ 329 MWh.

No tocante à produção de petróleo e derivados, os números anunciados pela Petrobras são grandiosos e fazem parte da expectativa que cerca o pré-sal. Os planos da estatal preveem alcançar 4,2 milhões de barris/diários em 2020, mais que o dobro dos 2 milhões de barris/diários atuais. Para o Instituto Fernando Braudel de Economia Mundial, o pré-sal vai atrasar muito, devido a entraves como estrangulamento financeiro, visão estatizante e falta de mão de obra especializada.

Quando, em 2006, o Brasil estava prestes a alcançar a autossuficiência petrolífera, com mais de 2 milhões de barris diários, o petróleo já alcançava mais de US$ 100 o barril. Hoje, o país está importando cerca de 20% das suas necessidades diárias de óleo e derivados, diante do crescente consumo.

O setor de petróleo e derivados do país terá o maior deficit desde 1995, perto de US$ 12 bilhões no ano transcorrido. Consoante as estimativas, tal deficit ficará em US$ 17 bilhões este ano.

Com tanta riqueza disponível, instaura-se, novamente, a antiga polêmica sobre a efetiva participação da iniciativa privada, com capitais e tecnologia, no desenvolvimento energético nacional, e qual seria o verdadeiro papel do Estado nesse relevante e decisivo setor da economia. Existem os que defendem, ideologicamente, a adoção do monopólio absoluto da Petrobras nas regiões do pré-sal — para eles, patrimônio da União, riqueza do povo e futuro do Brasil.

Outra fantástica realidade nacional é a indústria sucroalcooleira, que produz o etanol da cana. Os custos baixos de produção, terras abundantes e baratas, tecnologia 100% nacional e mão de obra suficiente fazem desse combustível o melhor substituto do petróleo entre nós. Ademais, é ecologicamente correto e, quando usado puro, o etanol produz uma queda de mais de 20% nas emissões dos gases do efeito estufa, além de incomensuráveis benefícios à saúde da população.

Devido às razões mencionadas da falta de planejamento governamental, o etanol, por vezes, tem caído no descrédito, devido a razões essencialmente econômicas, e não técnicas. Com o desenvolvimento do motor flex, que funciona, concomitantemente, com gasolina, etanol ou a combinação dos dois, o Brasil passou a ser a única nação do mundo em que o consumidor pode comprar, indistintamente, o combustível mais econômico existente nos postos de abastecimento.

Ademais, o que é pouco divulgado, misturado à gasolina (25%), o etanol melhora a qualidade da octanagem do derivado do petróleo. Nas últimas safras agrícolas, por falta de capitais e problemas climáticos, a produção de etanol não tem sido suficiente para atender a demanda e pouco sobra para as exportações.

Após o pré-sal, aparentemente, as autoridades brasileiras perderam grande parte do entusiasmo com a fabricação de etanol. Desde 2008, há uma paralisia de novos projetos, com inúmeras usinas encerrando o funcionamento. Na safra de 2012-2013, as indústrias processaram perto de 550 milhões de toneladas de cana. A Unica, principal entidade de classe do setor, vaticina que, em 2015, haverá uma recuperação da colheita, em função da renovação dos canaviais.

No ano findo, quase metade da cana brasileira foi dirigida para o fabrico do açúcar, o que ensejou as exportações da ordem de US$ 14 bilhões, em 2012, sendo que em 2011 elas alcançaram US$ 15 bilhões. O ano passado foi, dessa forma, uma safra predominantemente açucareira.

Quanto ao gás natural, a produção é da ordem de 65 milhões de m³. Assim, é insuficiente, também, para atender a demanda, e o deficit é suprido por importação da Bolívia, por gasoduto (cerca de 30 milhões de m³/dia) e navios. A parcela importada desse país representou, em 2012, mais de 50% do total oferecido ao mercado. Mantivemos, dessa forma, pesadas importações de petróleo, derivados e gás natural.

Dispondo de fantásticas opções, o Brasil já poderia ter alcançado a autossuficiência em eletricidade, petróleo e derivados, gás natural, etanol e energias renováveis (solar, eólica, etc). Inclusive, assumindo o papel de grande exportador.

Falta-nos, contudo, em 2013, o indispensável planejamento, capacidade gestora e adequadas políticas, conforme a matéria publicada, recentemente, na revista The Economist. É hora, portanto, de os dirigentes decidirem o rumo que a nação vai tomar no setor energético.

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