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Graça endossa versão para ´mau negócio´

2007-01-10 Maria das Graças Foster Presidente Petrobras (3)

Durante seis horas de audiência pública no Senado, a presidente da Petrobras, Graça Foster, tratou de defender a tese emanada pelo Palácio do Planalto, para justificar a compra desastrosa da refinaria americana de Pasadena, em 2006. Repetindo a versão do governo, Graça pôs todo o ônus pela decisão do “mau negócio” nas omissões de cláusulas “muito importantes”, que deveriam ter sido apresentadas pelo então diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró. As cláusulas put e marlim sequer teriam aparecido em “power point” ou mesmo “verbalizadas” para o conselho da estatal, o qual era comandado pela presidente Dilma Rousseff. Tudo seria diferente, disse Graça, se as informações fossem conhecidas previamente.

O fato é que o rombo deixado pela aquisição da refinaria nas contas da estatal já se aproxima de US$ 2 bilhões. Isso porque, ao custo total de US$ 1,245 bilhão que a Petrobras acabou desembolsando pela compra total da refinaria e sua trading, somam-se os investimentos que a petroleira fez em Pasadena desde 2006, para manter a operação em condições de produção. Isso já custou US$ 685 milhões adicionais à Petrobras. Trata-se, portanto, de um aporte total de US$ 1,930 bilhão em uma planta de refino que, ao menos até dezembro do ano passado, só deu prejuízo à estatal, como reconheceu Graça Foster. O tamanho desse prejuízo não foi detalhado.

A executiva admitiu que dificilmente a Petrobras verá a cor do dinheiro despejado em Pasadena. “O tempo transformou [a realidade do negócio], e não foi só por causa do pré-sal. As margens desceram, transformou o projeto em um projeto que não recuperará, tem baixa probabilidade de recuperação do investimento”, disse.

Além de endereçar toda a culpa a Nestor Cerveró, que hoje comparece à Câmara dos Deputados para dar a sua versão da história, Graça Foster tentou desconstruir a ideia de que a Petrobras teria pago uma verdadeira fortuna por uma refinaria que, um ano antes, custou meros US$ 42,5 milhões à Astra Oil. Esse custo, disse Graça, conta apenas parte da história de desembolsos feitos pela companhia belga entre 2004 e 2005 à empresa Crown, então dona da refinaria.

Pelos cálculos apresentados por Graça, o aporte total feito pela Astra teria chegado a US$ 360 milhões antes de a Petrobras entrar no negócio. Esse valor inclui US$ 104 milhões em compra de estoques, US$ 80 milhões em serviços de refino, US$ 64,5 milhões em compra dos ativos e US$ 112 milhões em investimentos feitos pela Astra. A transação entre Astra e Crown englobava diversas operações, por meio de dois principais contratos (“processing agreement” e “refinery purchase and sale agreement”), com parcelas distintas de pagamento pela Astra.

Após comprar a planta da Crown, a Astra obteve recursos no mercado para investimentos e capital de giro. Esta dívida, em setembro de 2006 – quando a Petrobras comprou 50% da operação – era de US$ 180 milhões, conforme um balanço auditado pela PricewaterhouseCoopers. “Apuramos, até o momento, que a transação entre Astra e Crown foi muito superior a US$ 42,5 milhões”, disse Graça. A executiva comentou que um balanço final e detalhado sobre as transações deverá ser concluído em 30 dias.

O discurso agradou o Palácio, que ficou satisfeito com o desempenho de Graça Foster no Senado. A avaliação, segundo uma fonte, é que a executiva fez uma defesa segura da estatal, capaz de reduzir as expectativas de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a empresa. Em linhas gerais, o Planalto comemorou o depoimento, avaliando que a executiva “recolocou as coisas no lugar” e defendeu as ações do conselho de administração entre 2006 e 2010, quando Dilma comandava o colegiado. A expectativa, no fim do dia, era que o depoimento esfriaria a onda de denúncias contra a Petrobras e reduziria as chances de CPI. Não é o que pensa a oposição (veja abaixo).

Para demonstrar que a Petrobras não ficou de braços cruzados diante da “omissão” de cláusulas de contrato por Nestor Cerveró, Graça chegou a dizer que, ao tomar conhecimento do problema, só em 2008, ficou decidido que o executivo deveria ser “rebaixado” para outro cargo no grupo. Cerveró deixou a diretoria da área internacional da Petrobras para assumir o comando da área financeira da BR Distribuidora, da qual foi demitido no mês passado. Oficialmente, porém, o executivo chegou a ser até elogiado por sua gestão na Petrobras, quando trocou de posto. “É inquestionável a posição de um diretor da Petrobras e a posição dentro da estrutura da companhia de um diretor de uma subsidiária. É sim uma diferença de ocupação, é sim uma diretoria muito mais restrita”, tentou justificar Graça. “Eu fui presidente da BR Distribuidora, acumulei a direção financeira da BR, e ela é muito mais restrita.”

As polêmicas de Pasadena dominaram a maior parte da audiência. Assuntos espinhosos como a atuação na estatal do ex-diretor de refino e abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, acabaram sendo pouco discutidos com os parlamentares. No dia 21 de março, Costa foi preso pela Polícia Federal. A prisão faz parte da Operação Lava Jato, deflagrada pela PF em 17 de março. Ele está detido em presídio no Paraná. A PF investiga as ligações de Costa com o doleiro Alberto Youssef, também preso preventivamente. Youssef é suspeito de coordenar um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e de manter conexões em órgãos do governo federal, como a Petrobras e o Ministério da Saúde.

“Aconteceu um grande constrangimento para a Petrobras com a prisão do ex-diretor Paulo Roberto”, comentou Graça. “Isso cria muita tristeza, muito constrangimento dos nossos colegas.”

Fonte: Valor Econômico

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