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.Ford quer encerrar receio com biocombustíveis

Frente à explosão dos preços do petróleo, a Ford decidiu bancar os franco-atiradores. A filial francesa da montadora de automóveis americana anunciou, nesta sexta-feira (04/11), que lançará no mercado, no final do mês, um modelo bicombustível capaz de funcionar com 85% de gasolina e 15% de gasolina. Assim, 300 unidades de Ford Focus equipadas com o sistema “Flexi-Fuel” estarão à venda na rede de concessionários.

Os veículos “Flexi-Fuel” já correspondem a 50% do mercado brasileiro e logo representarão 10% das vendas na Suécia. O princípio é bastante simples: o motor é equipado de um dispositivo de captação que permite regular a carburação em função da mistura utilizada. O tanque pode armazenar até 85% de etanol, ou seja, álcool fabricado a partir de trigo, de beterrabas, de milho ou de biomassa.

Caso o automobilista não encontrar etanol, o veículo pode andar com 100% de gasolina sem chumbo, de octanagem 95.

Esta perspectiva ainda está por ser concretizada na França, porque, diferentemente do que ocorre no Brasil ou na Suécia, não existe atualmente nenhuma rede de distribuição de etanol no país.

Primeiro obstáculo: a regulamentação impõe normas de volatilidade que não são respeitadas pelo álcool de origem vegetal. Além disso, enquanto não houver uma demanda razoável, parece inconcebível instalar bombas capazes de distribuir etanol 85 (E 85).

“A Ford pretende desempenhar um papel de estopim deste processo, colocando todos os protagonistas do setor frente às suas responsabilidades”, afirma Eric de Saint-Frison, o CEO de Ford França. “O combustível existe, e agora os veículos estão disponíveis. Então, o que estamos esperando para ir em frente?”.

Circunspeção

As outras montadoras se mostram mais circunspetas. “Hoje em dia, os veículos Flexi-Fuel não representam nenhum interesse na França”, afirma, categórico, Jean-Martin Folz, o presidente da PSA Peugeot-Citroën.

Segundo os objetivos que foram fixados em setembro pelo governo, os biocombustíveis deverão corresponder a 5,75% do consumo total no final de 2008, contra menos de 1% atualmente.

Ou seja, trata-se de uma proporção que não impõe nenhuma necessidade de mudar as motorizações utilizadas hoje que, na sua configuração atual, podem funcionar com até 10% de biocombustíveis. Daí o ceticismo da PSA em relação ao futuro no curto prazo dos “Flexi-Fuel”.

“O primeiro a entrar em ação disporá de uma vantagem incontestável em relação à concorrência”, insiste Eric de Saint-Frison, que está empenhado em convencer alguma companhia petroleira a desenvolver um sistema de distribuição de E 85 na França. Alguns contatos vêm sendo travados com a BP, mas, até o momento, eles não deram em nada.

Enquanto esta evolução vai se concretizando, a Ford pretende investir no mercado das frotas de veículos. Vários fabricantes de etanol e cooperativas agrícolas se dizem dispostos a encomendar algumas dezenas de veículos. Alguns setores da administração que dispõem de tanques autônomos, também se dizem interessados.

O futuro do “Flexi-Fuel” na França é acima de tudo uma questão de custo para o usuário. A Ford está preparada para propor seus veículos ao mesmo preço que os veículos tradicionais.

Resta o regime fiscal aplicado ao etanol. Se a Suécia conheceu no espaço de três anos uma decolagem espetacular dos biocombustíveis, é porque eles beneficiam de uma redução de impostos. No caso, uma ajuda amplamente superior àquela que foi adotada pela Assembléia Nacional (legislativo) no quadro de lei de finanças de 2006.

Um relatório conjunto da Agência das Minas (um dos grandes corpos técnicos do Estado francês), do Serviço de Engenharia Rural das Águas e das Florestas, e da Inspeção das Finanças, que foi tornado público nesta quinta-feira (3), afirma que o recurso dos biocombustíveis “só se tornará competitivo, em termos de equivalência energética, caso o preço do barril de petróleo alcançar um valor situado entre US$ 75 e US$ 90” (de R$ 167,52 a R$ 200).

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