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Fluxo de capital produtivo volta com mais força

Os próximos dois anos devem marcar a retomada firme do fluxo de capital produtivo para o Brasil. Todas as previsões- de analistas a órgãos do governo e organismos internacionais- apontam na mesma direção, e a maioria converge para um mesmo número: U$ 50 bilhões. Esse deverá ser o volume de entrada de investimento direto estrangeiro direto (IDE) no país entre 2011 e 2012 – superando em US$ 5 bilhões a marca recorde de 2008. A última previsão da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), com base em pesquisa junto a 240 empresas multinacionais, mostra que o Brasil será o quarto principal destino de recursos internacionais até 2011.

Relatório divulgado em outubro deste ano pela Universidade de Columbia (EUA) conclui que, pela primeira vez, os países emergentes deverão receber mais IDE que os desenvolvidos. Na opinião de André Sacconato, economista da Tendências Consultoria, um dos principais fatores de atratividade do Brasil é a força do mercado interno, com estabilidade na taxa de desemprego e aumento da renda. As áreas mais visadas pelo capital produtivo são: agricultura, imóveis urbanos, energia, indústria automobilística – sem contar a parte de infraestrutura com vistas à Copa e Olimpíada, e do pré-sal. Somente para a preparação dos eventos esportivos, fala-se em trazer US$ 130 bilhões, além de algo em torno de US$ 300 bilhões para o pré-sal.

Historicamente, a entrada de IED no Brasil ocorre de maneira bem diversificada. Nos últimos dois anos, a indústria aumentou sua participação, puxada pelo setor automotivo, mas o destaque de 2009, mesmo com os efeitos da crise, tem sido o setor de comércio, exceto veículos, que na comparação com o acumulado de janeiro a setembro de 2008 cresceu sua participação de 12% para 18% em 2009.

O impulso do setor de varejo, em que a presença europeia, sobretudo de empresas francesas, é significativa, pode ser explicado em parte pela expansão dos programas sociais que melhoraram os níveis de renda nas regiões Norte e Nordeste do país. “É para lá, onde vivem 54 milhões de pessoas, que as grandes redes direcionam seus investimentos”, diz o chefe do departamento econômico do Banco Central, Altamir Lopes.

A estabilidade econômica deve manter positivo o fluxo de IED. As projeções do Banco Central e das consultorias é de que este ano o ingresso de capital produtivo fique na casa dos US$ 25 bilhões (no acumulado do ano até setembro entraram US$20,3 bilhões). A expectativa é de que venham para o Brasil US$ 35 bilhões em 2010.

Comparado a outros países do Bric, o Brasil apresenta o maior estoque de capital externo produtivo. O cálculo feito pelo professor da PUC-SP e economista chefe da Siemens, Antonio Corrêa de Lacerda, com base em dados históricos da Unctad, leva em conta não apenas valores absolutos de fluxo de capital externo e corrente de comércio, mas a proporção de IED em relação ao PIB. O percentual consolidado do Brasil é de 18%, que corresponde a US$ 288 bilhões. Em seguida, aparecem Rússia (13%), Índia (10%) e China (9%).

Os investimentos estrangeiros ganham mais força também no mercado imobiliário. Eles seriam uma alternativa para as empresas que não conseguem acessar a Caixa Econômica Federal. O foco atual do interesse desses investidores é o programa Minha Casa, Minha Vida, destinado a pessoas de baixa renda. A construtora carioca Mudar, revelou ao Valor que pretende captar R$ 1 bilhão com sócios estrangeiros.

No setor sucroalcooleiro, é recente o interesse de grupos estrangeiros. A Bunge e a Noble fizeram suas primeiras aquisições em 2007. Duas usinas do grupo nacional Equipav, apontadas pelo mercado como os negócios mais atraentes do mercado, estão na mira de multinacionais interessadas em vir para o Brasil. Já, na área automotiva, em setembro, a filial brasileira da Volkswagen anunciou que prepara novo plano de investimentos. O último que a montadora anunciou, destinado a um ciclo de cinco anos, foi de US$ 1,7 bilhão.

Márcia Nejaim, gerente de investimentos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), diz que o volume de consultas feitas por estrangeiros interessados em implantar fábricas e negócios no Brasil cresceu nos últimos três meses. Seria o indício de um represamento de investimentos, à espera do fim da crise para ingressar no Brasil. Ela espera um bom crescimento no IED no primeiro semestre de 2010.

“Incentivamos as exportações em geral, mas a Apex trabalha para que o país exporte produtos de valor agregado, que gerem mais empregos”, afirma o gerente-geral de negócios da Apex, Sérgio Rodrigues Costa. O objetivo da agência é mudar a imagem do Brasil como produtor apenas de commodities. “Temos um parque industrial diversificado, qualificado, que produz máquinas de precisão, equipamentos neonatal, somos avançados em biotecnologia, aviões, móveis, motores, automóveis e também em artesanato de alta qualidade, algo que até recentemente poucos imaginavam que pudesse interessar tanto aos consumidores estrangeiros”, diz.

Uma empresa de fornecimento de equipamentos para o setor de petróleo, em fase de instalação no Rio, é a holandesa Huisman. O potencial do mercado brasileiro de energia a atraiu para cá. “Nossa filosofia é ficar sempre próximos do mercado comprador e ele agora está aqui”, diz David Roodenburg, diretor da empresa, que prefere não revelar os investimentos.

De acordo com dados da consultoria KPMG, o movimento de fusões e aquisições envolvendo a compra de empresas brasileiras por estrangeiras teve seu pico em 2007, com 143 operações de um total de 699, o que corresponde a 20,5%. Em 2008, houve uma queda em função da crise que afetou mais a movimentação dos estrangeiros – as operações caíram de 143 para 110, de um total geral de 663. “Nesse período, as empresas brasileiras fizeram mais aquisições”, diz Luís Augusto Motta, sócio da KPMG.

Embora tenha caído o número de fusões e aquisições, o capital estrangeiro continua entrando por outros caminhos, segundo Motta. “O investidor de fora muitas vezes entra como sócio minoritário em um negócio estratégico ou participa de ofertas públicas iniciais de ações”, explica. Ele avalia que hoje o Brasil oferece boas condições de retorno com risco bem menor, devido à condição de grau de investimento.

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