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Dicas de Tarcilo para aumentar a produção de etanol

Tarcilo Rodrigues respira o mercado de compra e venda de açúcar e de etanol como ninguém. Diretor da Bioagência, ele trabalha diretamente com o mercado, mas como a empresa opera produtos de unidades associadas, ele também convive diariamente com a gestão dessas companhias.
Na entrevista a seguir, Tarcilo dá sua receita de como o setor pode suprir parte da demanda extra de gasolina estimada pelo governo em 26 bilhões de litros dentro dos próximos oito anos.

JornalCana – O etanol é uma alternativa para ajudar a suprir a necessidade de 26 bilhões extras de gasolina a partir de 2023, conforme previsto pelo ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga?
Tarcilo Rodrigues – Os 26 bilhões de litros de gasolina representam um número gigantesco. É um desafio. Estamos falando [nesse volume] para daqui oito anos. São 2,6 milhões de metros cúbicos a mais. Temos a certeza de que o governo não possui mais capacidade de produzir gasolina. O que há de capacidade já está esgotado. Quem irá suprir isso? Então, olhando pelo lado positivo, é uma oportunidade sensacional para o etanol. Porque o setor tem capacidade de atender a uma parte [dessa demanda] com etanol.
De quanto seria essa parte?
Não se sabe se dará tempo fazer uma planta nova. Então nesses oito anos tem-se de preparar e voltar a investir. Primeiro é preciso acertar a parte das dívidas das usinas. Como resolver essa equação? 
Como o governo pode ajudar?
Se o governo começar a criar regras e definir o mercado da gasolina e abrir espaço para o etanol, será possível criar alguma oferta. Mas o tamanho [da previsão de 26 bilhões] é tão grande que será preciso continuar importando gasolina. No mais, para o setor sucroenergético é preciso lembrar que o mercado de açúcar continuará demandando.
Então será difícil?
Precisamos de medidas pelo etanol que deveriam ter sido tomadas ontem. Estamos super-atrasados. Na medida em que o governo não toma nenhuma decisão, e posterga, isso só irá se agravando. 
O sr. mencionou a questão das dívidas financeiras das unidades. É hora de ter um Proer para o setor sucroenergético?
É hora de pensar, mas de uma maneira diferente do Proer dos bancos. A crise do setor é diferente. Há dívidas externas e com outros agentes que não cabem num modelo de Proer. Um Proer é uma das soluções. Mas não é a única. 
Qual sua sugestão?
O setor precisa voltar a ter capacidade de investimento. E ter crédito. Para isso, os agentes financeiros precisam acreditar [no setor]. Sendo assim, o governo precisa definir qual é a regra do jogo daqui para frente. De quanto o etanol irá participar do mercado de combustíveis? Sem isso não iremos chegar a lugar algum.
E o produtor de etanol?
Se você cria um ambiente, altera as regras do jogo, isso atrairá investimentos.
Se o ajuste fiscal proposto pelo governo for implantado, isso ajudará a atrair capital estrangeiro para investir no setor sucroenergético?
Imaginemos que o Levy [ministro Joaquim Levy] tenha sucesso. O capital irá vir pelo que está definido, mas não para investir em greenfields. Ninguém virá sem o governo definir regras. E também não dá mais para a Petrobras fazer como fazia, de explorar todos os problemas, como, por exemplo, pagar mais caro pela gasolina que vendia. A Petrobras tem hoje um pepino enorme para resolver. Então, jamais a Petrobras pagará 100 pela gasolina para vende-la por 80. 
Explique sobre essa regra do jogo que o governo precisa fazer
Por exemplo: é definir pelos próximos dez anos como fica o etanol na matriz energética brasileira. Se fica com 40%, se terá tal regra de preço, de produtividade. Do contrário, se o preço do açúcar remunerar mais, sobe a produção de açúcar.
Há risco de isso acontecer agora, que o preço do açúcar no mercado internacional começa a subir para 2016?
O preço do açúcar está ruim. As subidas recentes estão longe de [revigorar os preços]. Hoje o setor está produzindo mais etanol. Se ficar assim, dentro de dois anos haverá uma reação no mercado de açúcar. Seu preço irá subir e a unidade de novo irá mudar sua produção de etanol para açúcar.
Fale mais sobre como compor essa regra e atrair o setor
Não é preciso determinar, como já existiu antes no país. Mas é preciso um mínimo de organização, porque temos dois modelos concorrentes. Um é estatal, da Petrobras, e outro é do mercado. Então, se não organizar com imposto diferenciado, com a Cide, ninguém sabe o que acontecerá lá na frente. Pode ser que o preço do petróleo suba. Ou então que caia. Como atrair investimento no etanol sem regra?
Quem deve levar essa proposta para o governo?
O Fórum do Setor Sucroenergético, a Unica. O governo, depois de muito tempo, admite que há um problema [relatado pelo ministro das Minas e Energia na audiência pública no Senado]. 
Apesar da perda de tempo, ainda dá?
A safra 16/17 já foi. Não dá para mexer mais.
Essa mudança de regras prevê, por exemplo, agilidade nos processos?
Sim, conseguir uma licença ambiental no Estado de São Paulo demora. E se se vai abrir novas fronteiras no país para ampliar canaviais, há a competição com outros cultivos, como a soja.
Em sua opinião, a Petrobras deixará de investir no setor sucroenergético [a estatal, por exemplo, é sócia da Guarani]?
Ela sairá pela necessidade de focar aquilo que é o core dela. Ela precisa produzir mais [petróleo], investir mais, aumentar a produção. Não faz muito sentido ela produzir etanol. Se produzir, terá o mesmo problema comum às usinas: se não for rentável, não produz. Ninguém irá produzir etanol para ter prejuízo. 
Importar etanol de milho dos EUA, como o Brasil já faz, é uma concorrência para o etanol brasileiro?
Não. Por que hoje o etanol de milho nos EUA é mais barato que o brasileiro? [Devido a subsídios, responde a reportagem]. Mas até quando isso irá durar? E outra: o Brasil não tem logística para estocar. 
E se a crise econômica do país terminar?
Se o país voltar a crescer em 2016, como prevê o ministro da Fazenda, a demanda por combustíveis também crescerá. 

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