Mercado

Definições do governo ainda são incógnita para usineiros

Em período de definição de quais produtos (açúcar ou etanol) produzirá em maior quantidade neste ano, o setor sucroalcooleiro encara com receio as promessas do governo federal de que beneficiará a produção de álcool à base de cana-de-açúcar neste ano.

Em defesa da Petrobras, a equipe econômica sinalizou que reajustará, em 2013, o preço da gasolina – mantido artificialmente, a evitar a inflação, e que prejudica a competitividade do biocombustível no varejo. E a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) garantiu para o início da safra de 2013/2014, após 31 de março, o aumento de 20% para 25% da presença de anidro no combustível fóssil.

As medidas (ou promessas) geraram diferentes reações em empresários e representantes do setor, a depender de suas regiões de atuação, como apurou o DCI.

No centro-sul, os fatores preço e qualidade ainda pesam mais no planejamento do mix de produtos, que deve seguir até fevereiro, do que a perspectiva de valorização do álcool, observa o diretor de Relações com o Mercado do grupo Alto Alegre, Luiz Carlos Corrêa.

“O que se espera é uma política no sentido de impulsionar o etanol, mas tudo que se viu até agora foram objetivos postos pelo governo. E visam equilibrar as contas da Petrobras”, disse ele.

Com sede em Presidente Prudente (SP), as usinas dirigidas por Caio, como é conhecido o empresário e presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), processam 8,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, em média, por safra. 70% destinam-se à produção de açúcar.

“A retomada do etanol depende não de uma usina, mas de um resultado médio. E algumas indústrias dependem muito de sua própria realidade estrutural, podendo ou não ampliar a produção do biocombustível”, pontua o executivo, que prevê: “se houver as medidas, o impacto maior será para o hidratado”.

Mato Grosso alcooleiro

Com moagem estimada em 5,8 milhões de toneladas de cana (alta de 5,3%) para 2013/2014, a usina Itamarati, da cidade de Nova Olímpia (MT), deve destinar 55% deste volume à destilação de etanol, segundo o diretor-presidente da indústria, Sylvio Coutinho.

“Não é uma definição conclusiva, mas uma estimativa: a produção sucroalcooleira tem uma flexibilidade muito grande”, disse ele, explicando que a opção pelo álcool se deve em parte à localização da companhia, que, por falta de meios, não exporta açúcar – a produção volta-se à região norte.

“Para efeito de mercado, [as mudanças] podem valorizar o etanol, aumentar sua rentabilidade”, observa Coutinho. Os custos da cana cresceram 27% nos canaviais ligados à Itamarati em 2012, segundo ele.

Nordeste açucareiro

Para a região nordeste, cujo setor sucroalcooleiro é voltado tradicionalmente à produção de açúcar, o reajuste da gasolina e o aumento da presença de etanol anidro no combustível fóssil podem trazer vantagens.

Assim analisa o presidente da União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida), Alexandre Andrade Lima. “Se as indústrias do centro-sul optarem pelo etanol, em função das mudanças do governo, haverá mais vantagem [na forma de demanda e preço] para a produção nordestina, que é 70% açucareira”.

Beterraba em Londres

Em novembro último, o representante participou de uma reunião promovida pela Organização Internacional do Açúcar (OIA ou ISO, em inglês) em Londres, Inglaterra. Segundo Lima, havia “uma espera” de representantes de outros países por definições do governo brasileiro em relação ao setor sucroalcooleiro.

“O açúcar brasileiro está inviabilizando a produção de açúcar internacional. A beterraba, por exemplo, já teve custo de produção quinze vezes superior ao da cana. Hoje custa o dobro”, disse o representante. “É por isso que o mundo inteiro se protege do Brasil, com taxas e bloqueios”, acrescentou.

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