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Crise no setor canavieiro gera mais de 2 mil demissões em Sertãozinho

carteiradetrabalho001A crise do setor sucroenergético, que se arrasta desde a recessão econômica internacional, em 2009, já é considerada por economistas como a pior dos últimos 40 anos. Dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) apontam que pelo menos 44 usinas fecharam as portas na região Centro-Sul do país por falta de investimentos. Em Sertãozinho, uma das cidades mais atingidas no interior de São Paulo, cerca de 2,2 mil trabalhadores foram demitidos somente nos últimos três meses, segundo levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). E a previsão, é de que a situação se agrave ainda mais.
“Estamos no fundo do poço. Hoje, existem empresas que não conseguem fechar as portas porque não têm condições financeiras para isso. Há sete anos, tínhamos 15 mil metalúrgicos e a previsão de crescimento era passar de 20 mil, mas, atualmente, não temos nem 10 mil trabalhadores”, afirma o empresário Antonio Eduardo Tonielo Filho, presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise-Br).

Tonielo explica que as metalúrgicas – fabricantes de equipamentos para as usinas de açúcar e etanol – são as que mais têm sentido os efeitos da crise, já que a procura por esse tipo de serviço está baixa. Os empresários que possuíam reserva financeira, conseguiram manter os salários dos funcionários por um tempo, mas, agora, estão demitindo em massa. Em maio, por exemplo, a indústria sertanezina fechou com saldo negativo de 655 postos de trabalho, de acordo com o MTE.
“Nós perdemos trabalhador e estamos sem caixa, sem capital de giro. A tendência é piorar porque nessa época, período de entressafra, começaria a produção de equipamentos novos, mas nós não temos condições de atender aos pedidos”, diz o presidente do Ceise-Br, afirmando que está buscando um empréstimo, o chamado “fundo garantidor”, junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Para o economista Luciano Nakabashi, professor da Faculdade de Economia e Administração de Empresas de Ribeirão Preto (FEA/USP), a crise deve se agravar no segundo semestre desse ano, em consequência da redução de preço do açúcar e da política de controle de preço da gasolina, por parte da União. Além disso, Nakabashi afirma que o Governo Federal também está “evitando” uma série de reajustes por causa das eleições em outubro, mas que devem ser repassados aos consumidores no início de 2015.
“Após a eleição, vai ser preciso fazer ajustes. Mesmo que isso não acontece, a tendência é continuar piorando porque vão aparecer cada vez mais os problemas de déficits interno e externos, inflação, dívida do governo. Então tudo isso faz com que a expectativa seja de piora ao longo desse ano e do próximo ano”, diz o economista.

Falta otimismo
Além do setor industrial, comércio, serviços e construção civil são os que mais contribuem para o decréscimo no número de postos de trabalho em Sertãozinho. Só nos últimos três meses, o saldo de demissões no comércio chegou a 548, enquanto os canteiros de obras dispensaram 324 operários, segundo dados do MTE. “Não temos recolocação, é perda de funcionários. Esse pessoal deve estar indo embora ou aproveitando o seguro desemprego temporariamente. A contratação está escassa”, explica o secretário de Indústria e Comércio, Carlos Roberto Liboni.
Ele reconhece que o alto nível de endividamento das famílias também tem colaborado para reduzir as vendas e, consequentemente, provocar o resultado negativo na geração de empregos. Entretanto, afirma que a situação vem se agravando porque a crise gera perda de confiança do empresariado e falta de otimismo por parte dos trabalhadores. “Nós reconhecemos que o quadro tem uma gravidade, mas não devemos entender que isso é uma coisa invencível.”
Na tentativa de reverter o cenário local, Liboni sugere um plano de recuperação econômica envolvendo diversos setores como o Ceise-Br, a Associação Comercial e Industrial, entre outros. “Nós temos que reverter essa expectativa. Se eu esconder meu dinheiro, não investir, não comprar bens, não ajuda em nada. Vamos começar a discutir essa situação, entusiasmar um pouco, para que o pessoal não se perca no pessimismo ainda mais.”

(fonte: G1)

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