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Contratos de açúcar e etanol patinam na BM&FBovespa

Líder na exportação mundial de açúcar, com metade do comércio global, o Brasil até hoje não conseguiu gerar liquidez para negociar a commodity no mercado futuro da BM&FBovespa, a maior bolsa do país. O mesmo se passa com o etanol, apesar de a produção brasileira do biocombustível ser a segunda maior do mundo, assim como seu mercado consumidor.

Apesar de toda a consolidação dos últimos anos no segmento sucroalcooleiro, com a formação de grupos cada vez maiores, ainda há um desequilíbrio de forças entre vendedores (usinas) e compradores (distribuidoras de combustíveis e indústrias de alimentos). Em geral, são muitas empresas vendendo e pouquíssimas comprando. Soma-se a isso, no caso do açúcar, a forte concorrência com a bolsa de Nova York, onde “players” brasileiros negociam contratos futuros da commodity há pelo menos três décadas.

Entre os meses de janeiro e maio deste ano, a bolsa paulista registrou a negociação de 20.715 contratos futuros de etanol hidratado – usado diretamente nos tanques dos veículos -, 42,8% menos que nos primeiros cinco meses de 2012. O ápice anual foi em 2011, quando o volume foi de 81.725 contratos de hidratado de janeiro a dezembro. Ainda assim, esse recorde significou a movimentação de cerca de 2,5 bilhões de litros de etanol (cada contrato tem 30 m3), ou cerca de 17% da produção de hidratado na temporada 2011/12.

Trata-se, portanto, de um número ainda muito distante de uma liquidez realmente representativa. O milho, por exemplo, movimentou na bolsa de Chicago (EUA) 14 vezes a produção mundial em 2012. O açúcar na bolsa de Nova York, 9,5 vezes de toda a produção global.

Os dois futuros lançados neste ano na bolsa, o de açúcar cristal e o de etanol anidro (biocombustível misturado à gasolina) também não vingaram até o momento. O de açúcar cristal movimentou nos cinco meses apenas 40 contratos. O de anidro sequer saiu do ponto de partida – ou seja, teve demanda zero.

Particularmente no caso do anidro, a bolsa tinha uma grande expectativa de que os contratos fossem largamente demandados por usinas e distribuidoras de combustíveis. Isso porque este foi o segundo ano da resolução 67 da ANP, que determina que as distribuidoras contratem antecipadamente 90% do anidro que vão usar no ano para misturar à gasolina.

“As usinas têm interesse em operar na bolsa, pois precisam de hedge. Mas as distribuidoras não têm necessidade de assumir esse tipo de risco, principalmente em um ano como este, com uma grande disponibilidade do produto”, disse Tarcilo Rodrigues, diretor da comercializadora de etanol e açúcar Bioagência.

O importante para o distribuidor, explica, não é garantir o melhor preço, mas comprar em condições iguais a de concorrentes. Assim, um contrato sem registro em bolsa, apenas com base na oscilação dos preços ´Esalq´, já é um ótimo negócio para uma distribuidora. “Ela não precisa assumir posição em bolsa, operação que lhe gera custos e riscos, entre eles a necessidade de depósito de margem, com a oscilação diária do contrato”, avalia Rodrigues.

No caso do açúcar branco, pesa um hábito já consolidado há 30 anos, tanto no Brasil como na maior parte do mundo, que é operar a partir da referência de preços do açúcar bruto (VHP) na bolsa de Nova York, mais um prêmio.

Para convencer uma indústria de alimentos, por exemplo, a operar com contratos de açúcar na BM&F, explica Rodrigues, é preciso induzi-la a fazer a conta contrária – ou seja, a converter o preço do açúcar branco na bolsa de São Paulo para açúcar bruto, compará-lo com Nova York e ajustar o valor com um prêmio. “Além disso, é preciso pagar mais. O custo de operação na bolsa de São Paulo é mais elevado do que na de Nova York”, afirma Rodrigues.

O corretor da Futura Corretora, Pedro Lanera, defende que os custos para operar na bolsa são “flexíveis”, mas reconhece que o problema é o custo do financiamento no Brasil para o ajuste diário em bolsa (depósitos realizados para cobrir as oscilações do contrato). “No exterior, esse financiamento é mais acessível e barato”, completa Lanera. Além disso, ele lembra que o mercado futuro no Brasil é algo relativamente recente – viável mesmo, na prática, a partir de 1994, com o Plano Real, que possibilitou a estabilização da moeda.

Mas a bolsa está disposta a trazer mais liquidez a essas commodities. Fabiana Perobelli, gerente de produtos do agronegócio da BM&FBovespa, lembrou que foi anunciado na semana passada, em um evento em São Paulo, um projeto que começará com açúcar e etanol e deverá ser estendido para milho, soja e café.

No caso dos produtos sucroalcooleiros, diz Fabiana, a primeira etapa foi criar os três contratos (açúcar cristal, anidro e hidratado) para que, com liquidez, possa ser feita a arbitragem entre os produtos. A segunda fase, a de conferir liquidez, será formada por dois projetos. O primeiro é atrair “parceiros estratégicos” – no caso do açúcar, as grandes indústrias alimentícias – e deixar que eles na bolsa sem cobrança de taxas de admissão ou permanência. “Queremos trazer o mercado físico desses players para o preço brasileiro. Eles vão perceber as vantagens, entre elas o menor risco cambial”.

Ela acrescenta que, paralelamente a isso, a BM&F vai contratar um formador de mercado – um agente financeiro que assume a obrigação de colocar diariamente ofertas firmes de compra e de venda de um ativo para garantir uma liquidez mínima. “Se uma usina resolver montar uma posição em bolsa para açúcar e precisar, por exemplo, encerrá-la, terá de oferecer um deságio grande para encontrar comprador”. O formador de mercado, diz, tem a função de comprar e vender esse papel com spread previamente definido.

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