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Açúcar entra na pauta da Unica, mas etanol continua a prioridade

Com um orçamento equivalente à metade do que tinha há dois anos, fruto de uma reestruturação feita em 2014 para evitar a saída de associados, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que representa 60% da produção de açúcar e etanol do Centro-Sul, não tem, a despeito da menor receita, menos desafios. Além de inúmeras demandas de curto e longo prazos para o etanol – que estão no topo das prioridades dos seus associados – a entidade adicionou às suas angústias mais imediatas o mercado de açúcar.

Recém-empossado na presidência do conselho deliberativo da Unica no lugar do ex-ministro Roberto Rodrigues, o executivo Luís Roberto Pogetti diz que o ciclo de baixa nas cotações do açúcar está se prolongando em demasia. Normalmente, costuma durar três anos, mas desta vez se arrasta há quase cinco.

É natural nesses momentos que os países produtores busquem proteger seus mercados, o que aumenta o risco de distorções. “Nosso objetivo é defender o livre mercado de açúcar”, diz o executivo, que também é presidente do conselho de administração da Copersucar

Em 2014, a entidade, por meio do Itamaraty, fez questionamentos à Índia na Organização Mundial do Comércio (OMC) para entender mecanismos de incentivos dados pelo país a seus produtores. Neste ano, fez o mesmo com a Tailândia. Ainda não obteve resposta, mas está preparada para iniciar, se for o caso, um contencioso internacional.

Também preocupa os associados uma onda de demonização do açúcar na alimentação humana. Neste mês, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reduziu à metade a recomendação diária para o consumo de açúcar, de 10% para 5% das calorias diárias. Por conta desses e outros movimentos do gênero, a Unica vai lançar em breve uma campanha publicitária para desmitificar o produto como o vilão para a saúde.

Batizada de “doce equilíbrio”, a campanha quer combater a visão de que açúcar faz mal. “A nossa reação é a de buscar melhorar o nível de informação na sociedade”. Conforme Pogetti, um comitê técnico multidisciplinar, formado por nutricionistas, geriatras e endocrinologistas vão dar sustentação científica à campanha. “Ela tem caráter preventivo. Busca esclarecer adequadamente a sociedade, tendo em conta que têm crescido movimentos contra o açúcar no mundo”, afirma.

Apesar da entrada dessas questões na pauta, o etanol ainda continua sendo a grande prioridade, diz Pogetti. Representante de um setor com histórica intervenção governamental, a entidade busca há anos convencer o governo de que é preciso um marco regulatório para etanol e eletricidade que permitam previsibilidade para investimentos. Essa é a demanda número “um”, na visão de seus associados. O presidente do conselho afirma que a Unica está trabalhando num projeto para subsidiar o governo nessa demarcação. “Se for definido qual o papel no longo prazo, é mais fácil definir o que fazer para chegará lá”.

Ele acrescenta que a Unica continuará buscando no governo a aprovação de uma diferenciação tributária entre etanol e gasolina, de forma a “premiar” o biocombustível pelo efeito positivo que ele traz ao ambiente e à saúde pública. “A Cide [Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico] fazia esse papel, mas ao ser retirada pelo governo [em julho de 2013], transferiu aos produtores de etanol o ônus desse ‘financiamento’ ambiental e à saúde pública da sociedade”, argumenta.

Em fevereiro deste ano, a Cide voltou a incidir sobre a gasolina, em um montante de R$ 0,22 por litro. Mas nas contas da Unica, trazida para valores de 2015, a Cide deveria incidir em R$ 0,50 por litro. Em janeiro de 2013, quando atingiu seu auge, a contribuição chegou a R$ 0,28, sendo zerada em julho do mesmo ano. Assim, diz Pogetti, a recomposição foi parcial. “A batalha para avançar nessa questão ainda não acabou. Essa diferenciação tributária tem que ser feita”.

Também neste ano, as usinas conseguiram ter aprovada a elevação para 27% da mistura de etanol anidro na gasolina, que antes era de 25%. Mas começam a enfrentar alguns ruídos, após um comunicado da Anfavea, que representa os fabricantes de veículos, recomendar que veículos movidos exclusivamente à gasolina passem a usar o tipo “premium” – e não a gasolina “C” com 27% de etanol – até a conclusão dos estudos sobre o impacto na durabilidade dos motores.

Na semana passada, o Ministério Público Federal de Minas Gerais encaminhou uma recomendação à Secretaria Executiva do Ministério de Minas e Energia para que a mistura de 27% seja suspensa até que se tenha certeza sobre a inexistência de prejuízo ao consumidor.

“Essa decisão [de elevar a mistura] não foi unilateral. A Anfavea endossou”, afirma Pogetti. Segundo ele, 80% dos testes foram feitos antes da aprovação, o que deu conforto na tomada de decisão. “Para nós, surpreende essa polêmica. Acredito que seja uma tempestade em copo d’água”. Ele acrescenta que em duas semanas os testes finais, sobre durabilidade dos motores – 100 mil km – com a nova mistura serão concluídos. “Até o momento, ao rodar 70 mil km os veículos à gasolina não apresentaram problemas”, relata.

Ao todo, a Unica tem 124 unidades industriais associadas que pertencem a 14 grupos e a outras 11 empresas com apenas 1 usina. Além de todas essas demandas, a entidade tem ainda à frente o desafio de convencer o motorista de carro-flex a abastecer com etanol, em vez de gasolina – o que nem sempre acontece mesmo que o preço do etanol seja mais atrativo. “As campanhas em televisão demandam orçamento alto. Estamos buscando um caminho para manter o etanol em evidência, com baixo custo”, afirma Pogetti.

(Fonte: Valor Econômico)

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